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CRESS-PR repudia desfile cívico em que crianças foram trajadas como escravas no Paraná

No último dia 18 de setembro, um fato lamentável ocorrido no desfile cívico no município de Piraí do Sul, no Estado do Paraná, ocupou as manchetes da mídia brasileira. No referido desfile, crianças negras foram vestidas com trajes e correntes que faziam alusão ao período escravocrata do Brasil, enquanto crianças brancas desfilaram com vestes que simbolizavam a família real portuguesa.

Na imprensa, imagens e vídeos do desfile circularam em redes sociais, onde muitas pessoas se manifestaram com indignação ao indicarem que as imagens apresentavam teor racista.

Para o Assistente Social, negro, Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social e Política Social da Universidade Estadual de Londrina e conselheiro do CRESS-PR (Conselho Regional de Serviço Social), Marcelo Nascimento de Oliveira, “esta é uma pura expressão de raízes fincadas no colonialismo e que precisamos nos posicionar”.

“Primeiro, brancos montam um cenário público que denominam de “ato cívico”, em seguida explicitam publicamente o racismo estrutural, presente em nossa sociedade. E, sem nenhuma crítica às estruturas que se assentam no processo histórico de colonização e exploração, civilizam religiosamente a barbárie cometida contra negros que foram escravizados por brancos, expondo numa ideia velada a supremacia do colonizador sob a égide do discurso da democracia racial. Diante de uma atitude como esta precisamos nos manifestar, precisamos repudiar, para que respeitem nossa resistência e história”, conclui.

Para a conselheira do CRESS-PR, Doutora em Ciências Sociais Aplicadas, Cristiane Gonçalves de Souza, não há como a categoria profissional de assistentes sociais do Paraná deixar de manifestar sua indignação e repúdio ao fato.


Ela destaca que um dos princípios fundamentais, contidos no Código de Ética das (dos) Assistentes Sociais, é o empenho na eliminação de todas as formas de preconceito, incentivando o respeito à diversidade, à participação de grupos socialmente discriminados e à discussão das diferenças.


“É sabido que, na formação sócio-histórica brasileira, a escravidão da população negra, infelizmente, é um fato histórico, entretanto, limitar-se em identificar o passado da população negra como escravizada representa atitude preconceituosa e reafirmação de estereótipos, a julgar que a escravidão foi uma condição imposta a essa população, aos afrodescendentes trazidos por portugueses no período colonial”, avaliou a Assistente Social.


Segundo Cristiane, fazer essa elucidação – por mais óbvia que se possa parecer – é necessária e urgente. “Pois, o argumento, para a inserção de tal cena no desfile, foi a lógica de imprimir valores cívicos. Porém, destacamos que, se era essa a ideia, isso poderia ser retratado de outra forma, para além do reforço do estereótipo de pessoa negra escravizada, como ser humano pertencente a uma segunda classe”, ponderou.

Posicionamento do CRESS-PR

Como entidade de classe, o CRESS-PR se manifesta sobre a necessidade de contar a história da população negra do ponto de vista da escravidão, mas, sobretudo, enfatiza que é urgente que tal história seja contextualizada, por meio do relato dos seus feitos na sociedade, da sua saga de luta por liberdade, igualdade, dignidade e justiça social, enfim, pelo reconhecimento na pauta dos direitos humanos, com toda igualdade e respeito que todo ser humano merece. O conselho também se coloca na luta antirracista e vem mobilizando a categoria de Assistentes Sociais para compor o Comitê Paranaense de Assistentes Sociais na Luta Antirracista.