Com a palavra, Assistente Social na Pandemia: “Nos sentimos ainda mais desvalorizados/as e desmotivados/as”

Mariane Lukavy trabalha no CREAS de Teixeira Soares, NUCRESS de Irati, atendendo todas as situações de violência e violação de direitos municipais (mulher, idoso, criança e adolescentes, pessoa com deficiência e medidas socioeducativas). Ela relata que a pressão por eficiência e eficácia em contexto de pandemia, sem as condições necessárias está adoecendo as/os profissionais.

Como tem sido sua rotina com a pandemia? O que mudou?

Desde o início da Pandemia, continuo em trabalho presencial da mesma forma que antes. Nos primeiros dias houve diversas orientações da chefia direta de adequação do serviço, inclusive para atendimentos de forma remota, pois estaríamos recebendo equipamentos de segurança para execução do trabalho presencial e aparelhos celulares para atendimento celular. Porém, eles foram entregues só há poucos dias.

Com a pandemia as demandas aumentaram significativamente. Recebemos todos os dias novas situações de violência para atendimento. No início tentamos identificar situações mais emergenciais e atendê-las de forma presencial, o que foi difícil também porque precisávamos dos aparelhos celulares, que chegaram só há poucos dias, para fazer os atendimentos de forma remota.  Isso nos obrigou a continuar o cotidiano “normal” do trabalho, com realização de visitas domiciliares, atendimentos presenciais e demais atividades, única atividade que não foi retomada é a realização dos grupos.

Outra questão de relevância que percebo, são as demandas do Poder Judiciário e do Ministério Público, que mesmo com todas as orientações dos órgãos de saúde pública, Ministério da Cidadania e demais, continuaram e aumentaram durante a pandemia. São solicitações para realizações de visitas domiciliares, com prazos curtíssimos a serem cumpridos, sobre o acompanhamento das medidas socioeducativas, mesmo com os locais de prestação de serviços para onde os adolescentes eram encaminhados fechados. Foram encaminhados vários ofícios, contendo todas as orientações recebidas para conhecimento do PJ, porém as solicitações continuam a chegar.

Houve aumento de jornada de trabalho?

Quanto às horas trabalho, apesar de nunca ter parado para fazer um levantamento de quantas horas, houve sim aumento de jornada, faço em média uma hora a mais por dia, para tentar dar conta de toda a demanda apresentada.

Você tem que realizar atividades que não fazem parte das funções de assistente social?

Além das situações de violência, surgiram outras demandas ao longo da pandemia, como foi o caso do benefício emergencial estadual “Comida Boa”, que exigiu que o CREAS parasse suas atividades normais por quase duas semanas para realizar a entrega dos cartões. Também surgiram demandas para orientação quanto ao acesso ao Auxílio Emergencial do Governo Federal e acesso a benefícios eventuais, devido ao grande número de pessoas que ficaram desempregadas.

Quais as principais dificuldades que você está enfrentando para trabalhar em tempos de pandemia?

Assim como eu, outros profissionais possuem férias atrasadas para tirar, porém não estamos recebendo autorização para retirá-las, visto que as demandas continuam a crescer e os serviços ficariam desassistidos.

Penso que os profissionais do SUAS que já eram desvalorizados anteriormente, estão ainda mais desvalorizados e desmotivados.  Pois, com a demora no recebimento dos equipamentos necessários, expondo os/as profissionais ao risco, e as cobranças constantes de “eficácia e eficiência”, como se as situações atendidas pelo SUAS fossem apenas quantitativas, vem acontecendo um adoecimento ainda maior dos profissionais da linha de frente. Não há nenhum suporte visando a qualidade de vida e a saúde mental destes.