População em situação de rua: “Não é o frio que mata, e sim a falta de políticas públicas”

foto Lineu Filho - Tribuna do Paraná
foto Lineu Filho – Tribuna do Paraná

Na noite de terça (26) para quarta-feira (27) a praça Rui Barbosa, no Centro de Curitiba, foi o local de uma vigília de movimentos sociais em prol da população em situação de rua. Somente nos meses de maio e junho deste ano, 4 pessoas que dormiam nas ruas já morreram na cidade, sendo que o inverno rigoroso ainda está por vir. Mas não é do frio que a população reclama, e sim da falta de políticas públicas, explica a assistente social Eliane Silvério Betiato, integrante da CT Assistência e representante do CRESS-PR no CIAMP-Comitê Intersetorial da População em Situação de Rua.

Presente na vigília, Eliane comentou sobre as principais reivindicações das pessoas presentes no ato: “não existe um projeto consistente da gestão municipal para a população em situação de rua. As práticas são higienistas, a abordagem é truculenta e os serviços ofertados provocam a rejeição da população”, resumiu a assistente social.

Além de chamar a atenção para as mortes, a vigília foi organizada como forma de repudiar as posturas adotas pela Prefeitura Municipal de Curitiba no atendimento à população em situação de rua. Em carta aberta à população, o movimento denuncia a precariedade e a provisoriedade dos equipamentos e das políticas públicas da assistência social de responsabilidade do município: “Há regras abusivas, carência de produtos e alimentos, restrição de privacidade e de pessoas que demandam o serviço ou atendimento, falta de programas para a superação da situação de rua entre outras precariedades que têm se perpetuado e, ultimamente, se agravado”, aponta a carta.

O ato serve também como esclarecimento sobre um mito de que essas pessoas querem ficar nesta situação de rua e não querem ser atendidas. “Muitos criminalizam as pessoas em situação de rua como se elas fossem as próprias culpadas pelas situações que passam”, diz outro trecho da carta. Sobre isso, esclarece: atualmente faltam de vagas (foram anunciadas 1200 vagas para o inverno, sendo que a estimativa é de ao menos o dobro de pessoas em situação de rua em Curitiba); o serviço destinado às pessoas em situação de rua é provisório; as pessoas precisam passar a maior parte do dia em filas na tentativa de garantirem o acolhimento; o prazo de estadia nos acolhimentos é curto e não possibilita a reorganização da vida das pessoas para uma situação de domicílio permanente; estes espaços destinados a pessoas adultas são autoritários, coletivos e sem qualquer tipo de privacidade; além de casos mais graves quando agentes públicos retiram os pertences das pessoas, como cobertores, colchões e inclusive documentos pessoais, havendo diversas queixas de abordagens truculentas, o que produziu uma relação de total desconfiança.

“Muitas vezes as pessoas preferem passar os percalços de dormir na rua do que ir para os centros de assistência. Lá são mau-tratados, separados de seus cachorros e companheiros, entre outras questões”, afirmou Vanessa Lima, coordenadora do Projeto Mãos Invisíveis, em entrevista ao jornal Gazeta do Povo.

No dia da vigília, as/os participantes entregaram uma carta pública ao procurador do MP-PR, com demandas de melhoria da FAS e em todo o sistema.

Confira aqui a carta