“Descomemoração” – 50 anos do golpe militar

No dia 1º de abril de 1964 instalou-se no Brasil o Regime Ditatorial após o Golpe Militar que derrubou o então presidente da época, João Goulart. O Golpe Militar de 64 mudou completamente a realidade do país em seus 21 anos de duração, estabelecendo um regime repleto de censuras e perseguições políticas.

“Hoje, passados 50 anos do Golpe de 1964, muito ainda há por fazer. Os milhares de mortos e desaparecidos precisam ser encontrados e sepultados. A nação brasileira precisa conhecer seu passado para se entender com o seu presente e construir um possível futuro de paz, liberto julgo das correntes que o aprisionam. É preciso aperfeiçoar e aprofundar a democracia brasileira sob a égide da verdade, da memória e da justiça, para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça” aponta o Fórum Paranaense de Resgate da Verdade, Memória e Justiça.

O CRESS/PR entende a importância de lutar contra os vestígios da ditadura de 64 e outras injustiças que continuam se perpetuando em nossa sociedade. O Serviço Social é uma profissão com conta com um projeto de transformação societária e assim é papel do/a Assistente Social buscar uma sociedade igualitária, onde os direitos humanos sejam respeitados. Precisamos sempre nos unir para combater as irregularidades éticas e políticas e defender a plenitude da democracia.

Confira programação do Fórum Paranaense de Resgate da Verdade, Memória e Justiça para debater 50 anos do golpe.

Para uma reflexão sobre os 50 anos do Golpe Militar publicamos a seguir o texto “50 anos do golpe, início de uma tragédia brasileira”, publicado no jornal Brasil de Fato.

A década de 1960 foi marcada na história do Brasil por uma crise econômica e política. A economia brasileira patinava no seu falso modelo de industrialização dependente do capital estrangeiro. Crescia a inflação e o desemprego. Mas por outro lado, havia um governo popular do presidente João Goulart e a classe trabalhadora vinha de um longo período de reascenso do movimento de massas desde a segunda guerra mundial.

Essas circunstâncias levaram a que as forças populares e o governo Goulart apresentassem à nação uma saída para a crise: as reformas de base. As reformas propostas significavam adotar um novo modelo de desenvolvimento fundado na indústria nacional, na distribuição de renda e a melhoria das condições de vida da população brasileira.

Para isso, seria necessário controlar o capital financeiro através de uma reforma bancária. Repotencializar a indústria brasileira, com uma reforma industrial que reorganizasse a indústria para o mercado interno e para as necessidades do povo.

Uma reforma educacional para eliminar o analfabetismo e colocar todos os jovens nas escolas, em todos os níveis. E uma reforma agrária que garantisse terra e desenvolvimento no meio rural, gerando produção, emprego e renda ao meio rural. A proposta de reforma agrária de Goulart foi a mais ousada até hoje, quando propôs desapropriar todas as fazendas acima de 500 hectares, localizadas 10 km de cada lado das rodovias, ferrovias e margens de lagos e açudes.

Essas propostas uniam as forças populares que estavam nas ligas camponesas, sindicatos, quartéis, campos e construção (como diz a música de Geraldo Vandré) com um governo popular que tomava iniciativa das mudanças.

Porém, as forças do capital se articularam com o império estadunidense – como bem demonstra o imperdível filme de Flávio Tavares O Dia que Durou 21 Anos – ou o livro de René Armand Dreifuss (1964: a conquista do Estado. Ação Política, Poder e Golpe de Classe, Vozes, Petrópolis, Rio de Janeiro, 1981 – e organizaram um golpe de Estado.

Sempre que a burguesia, em todo o mundo, se sente ameaçada nos seus privilégios, joga na lata de lixo as leis, a Constituição, a democracia, sua própria ordem burguesa e apela para as armas, para a força bruta, para recompor seu controle sobre o Estado e sua vontade política de classe. E assim foi aqui no Brasil. Dia 1 de abril de 1964, dia da mentira, se perpetuou um golpe militar e se implantou uma ditadura empresarial-militar que durou 21 anos!

Na economia, a burguesia imperialista dos Estados Unidos socorreu o Brasil trazendo seus dólares. Injetaram bilhões como investimento externo, que produziram um “milagre brasileiro” de retomada do crescimento da economia, baseado em grandes obras e deixando como saldo a maior dívida externa de todos os tempos, que iria estourar anos mais tarde, na década de 1980.

E assim a economia se transformou ainda mais dependente do capital estadunidense e das empresas transnacionais em geral. Para impor sua ordem, nos primeiros tempos a repressão se abateu contra todas as formas de organização da classe trabalhadora: ligas camponesas, sindicatos, central sindical e setores progressistas das igrejas. E se voltou contra todos os militares progressistas que apoiavam o governo Goulart e as reformas de base.

Depois, a partir de 1968, a repressão se aprofundou com a criação dos Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), financiado por empresas. A partir daí, se cometeu todo tipo de crime – torturas, assassinatos, ocultação de cadáveres etc. –, que atingiram a juventude, o movimento estudantil e as formas de resistência armadas que as organizações políticas haviam adotado.

A repressão se amplia com o cerco à guerrilha do Araguaia (1973- 75) e nova onda de pressão nas cidades. Mas foi também o início de sua queda. Pois a partir das greves de 1978/79, a classe trabalhadora retoma as mobilizações de massa, a campanha pelas Diretas Já, e finalmente, a primeira eleição para presidente em 1989, que representaram o fim e derrota da ditadura empresarial- -militar.

Nesses anos todos, além da falta de liberdade, da instalação de um regime ditatorial, de políticos medíocres, tivemos milhares de brasileiros perseguidos, exilados, torturados e assassinados. Nunca poderemos nos esquecer deles! A Lei de Anistia de 1979 serviu apenas para esconder os responsáveis, que agora a Comissão da Verdade não consegue recuperar e nem realizar a justiça necessária.

Nessa semana que marca os 50 anos do golpe – início dessa tragédia social e política que a sociedade brasileira viveu – certamente se multiplicarão eventos e oportunidades em debates, livros e filmes, para recuperar a memória e refletir sobre as lições dessa trágica história.

O jornal Brasil de Fato se junta nessa recuperação histórica, sobretudo para a nova geração de lutadores da juventude brasileira, para que conheçam a nossa história, para que conheçam a sanha do capital e as perversidades do que é capaz de fazer a burguesia brasileira para não perder seus privilégios.

Que essas lições nos ajudem a evitar erros do passado. E que a classe trabalhadora se conscientize, se organize melhor na construção de processos que levem a uma sociedade mais justa, verdadeiramente democrática e igualitária. Situação que ainda estamos longe de conquistar, diante das mazelas econômicas, sociais e políticas que colocam a sociedade brasileira entre as mais injustas e desiguais de todo o planeta.

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