Entrevista: o conselheiro Jackson Michel Teixeira da Silva fala sobre o combate à intolerância religiosa

O Brasil registrou 2.124 violações de direitos humanos relacionadas à intolerância religiosa durante todo o ano de 2023. O número, divulgado pelo Disque 100 — Disque Direitos Humanos, indica um aumento de 80% na comparação com o ano anterior, quando foram compiladas 1.184 violações provenientes de diversas regiões do Brasil.


As religiões de matriz africana seguem como as mais afetadas pela violência e intolerância religiosa. 


A Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos do Ministério ds Direitos Humanos e da Cidadania (ONDH/MDHC) divulgou o balanço no último domingo (21) por ocasião do Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa.


Neste contexto, o CRESS-PR entende que a/o assistente social desenpenha um papel essencial na luta contra a intolerância religiosa, atuando como agente de transformação social. Em sua prática diária, ela/ele promove conscientização, educação e diálogo inter-religioso, facilitando a construção de pontes entre diferentes comunidades. Além do combate direto à intolerância, a/o assistente social se envolve na promoção de políticas públicas inclusivas e na defesa dos direitos humanos, assegurando direito fundamental de praticar a fé sem temer represálias ou discriminação.



Para entendermos mais a importância de se lutar contra a Intolerância religiosa, convidamos o conselheiro do CRESS-PR Jackson Michel Teixeira da Silva para esclarecer algumas dúvidas. Confira!


CRESS-PR
— Para você, o que é intolerância religiosa?

Jackson — É o desrespeito, o ódio e a descriminalização, as diferenças práticas, a crenças religiosas diferentes. Regadas pela formação de um país que escreveu sua história com o sangue negro e indígena, nós adeptos de religiões e cultos afro-brasileiros somos os que mais somos perseguidos.  


CRESS-PR
— Por que os casos de intolerância religiosa continuam aumentando no Brasil?

Jackson — Infelizmente, nos anos do governo anterior, vimos grande aumento nos casos de intolerância religiosa. Mesmo em um Brasil laico, tivemos um violador de direitos humanos na presidência, que contribuiu e muito para o aumento das intolerâncias, não só religiosas, mas de gênero, raça, aumento dos crimes de ódio. 

Enquanto a sociedade continuar elegendo pessoas ligadas a instituições religiosas intolerantes e sendo conivente a violações de direitos humanos, a cultura de meu povo está ameaçada. 


CRESS-PR
— Por que as religiões de matriz africana são as que mais sofrem com a intolerância religiosa?

Jackson — O Brasil é um país racista, uma sociedade que se formou numa cultura escravocrata, onde tudo do negro era vista como algo ruim. Infelizmente temos muito a avançar neste debate, e a intolerância religiosa é mais uma expressão de racismo, o qual temos que combater cotidianamente. O “diabo” que atribuem as religiões afros, nem existe em nossa cultura.  


Além disso, que tudo que é ligado a presença e vivência negra no Brasil é satanizada. Sou iniciado a mais de 20 anos no candomblé, religião de matriz africana, e os terreiros permanecem sendo nossos quilombos, lá aprendemos que a maior religião do mundo é o amor. Combater a intolerância religiosa é um exercício cotidiano de combate ao racismo!


CRESS-PR
— Qual o papel da/do assistente social no combate à intolerância religiosa?

Jackson — É princípio ético do/da assistente social a luta contra toda forma de preconceito e a defesa intransigente dos direitos humanos.