Cuidados paliativos oferecem conforto aos pacientes com câncer e aos seus familiares

Os dados mais recentes de câncer no Brasil, disponibilizados pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca) são de 2020, e mostram que o tipo de câncer mais comum entre os homens é o de próstata, com 65.840, e nas mulheres o tipo mais comum é o câncer de mama, com 66.280 casos registrados. O Inca apresenta os dados separados entre homens e mulheres. Neste dia 04/02, quando é celebrado o Dia Mundial do Câncer, o Conselho Regional de Serviço Social do Paraná (CRESS-PR) enfatiza a importância dos cuidados paliativos para pacientes que sofrem com a doença.

Os cuidados paliativos podem ser prestados durante todo o tratamento do câncer, desde o diagnóstico até o fim da vida. Além disso, quando o paciente recebe cuidados paliativos, pode continuar fazendo o tratamento contra o câncer. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 56 milhões de pessoas necessitam de cuidados paliativos a cada ano.

No Brasil, ainda segundo os dados do Inca, depois do câncer de próstata, o câncer que mais atinge os homens é o de cólon e reto (20.540), traqueia, brônquio e pulmão (17.760), estômago (13.360) e da cavidade oral (11.200). Nas mulheres, depois do câncer de mama, os tipos de câncer que mais comuns são o de cólon e reto (20.470), colo do útero (16.710), traqueia, brônquio e pulmão (12.440) e glândula tireoide (11.950).

Mas, afinal, o que são os cuidados paliativos?

Segundo a Assistente Social Alexsandra Moreira, que atuou na área por mais de cinco anos, os cuidados paliativos são destinados a todo paciente com doença que ameace a vida e não tenha possibilidade de cura. “É uma abordagem que promove a qualidade de vida de pacientes e de seus familiares que enfrentam doenças que ameacem a continuidade da vida, por meio da prevenção e alívio do sofrimento. É a possibilidade de cuidados para o final da vida”, explica.

Nádia Simone de Castro, Assistente Social atuante na unidade de cuidados paliativos do complexo hospitalar Erasto Gaertner, explica que por meio dos cuidados paliativos “tratamos a pessoa e não a doença, por isso todo o contexto que o mesmo se encontra inserido é considerado para que possa ser atendido em sua totalidade.”.

A ideia de associar os cuidados paliativos ao fim da vida é equivocada, garante Nádia, já que a proposta é promover a qualidade de vida através de medidas que amenizem ou controlem os sintomas. “Muitas doenças, crônicas ou não, podem ter protocolos terapêuticos extremamente agressivos, e os cuidados paliativos podem ser ofertados concomitante ao tratamento curativo e na medida que a doença vai progredindo, ou não obtenha a resposta terapêutica favorável, os cuidados paliativos vão se tornando mais significativo até que seja uma proposta única de cuidados”, enfatiza.

Entretanto, Alexsandra destaca que os cuidados paliativos também são importantes pois valorizam a vida e, em casos mais graves, contribuam para que os pacientes encarem a morte como um processo natural com possibilidade de cuidados. “Durante todo o período da doença, o foco dos cuidados é proporcionar o alívio das necessidades biopsicossociais e espirituais, enquanto demanda a compreensão de crenças, valores e necessidades individuais”, acrescenta.

Resistência ao tratamento

Segundo Alexsandra, em uma pesquisa que realizou, ficou evidenciado que ainda há um desconhecimento sobre o que são os cuidados paliativos. “Muitos familiares e pacientes ainda acreditam que cuidados paliativos é deixar morrer sem os cuidados devidos. É importante tornar mais conhecido o conceito de cuidados paliativos”.

Nádia completa que por conta do estigma acerca do tema, é muito comum se ouvir que os cuidados paliativos são oferecidos quando há mais nada que possa ser feito. “Por isso, é natural que ocorra a resistência, pois ninguém quer ver um ente querido desassistido, sem assistência. No entanto, quando o paciente e seu familiar são orientados tanto pelo médico como outro profissional que compõe a equipe sobre qual a proposta destes cuidados, como será realizado, de que forma e quais os benefícios deste atendimento, a adesão é muito maior e, posteriormente ao aceite, recebemos muitas formas de agradecimento e reconhecimento pelo cuidado que está sendo ou que foi ofertado”.

Serviço social e os cuidados paliativos

O CRESS-PR destaca que as (os) Assistentes Sociais possuem um importante papel nos cuidados paliativos, realizando o acompanhamento da família e identificando condições sociais que possam influenciar nos cuidados e na relação com a equipe de cuidados paliativos. “A provocação no cotidiano está nas várias situações trazidas pelos usuários do serviço de saúde, que influenciam e se materializam para a equipe de cuidados paliativos. Com isso, os aspectos subjetivos do trabalho em equipe são aflorados, como a percepção da emoção, dos sentimentos de pacientes e familiares, com a identificação e compreensão da condição sociais e de saúde do paciente e do familiar, por exemplo”, enfatiza Alexsandra.

“É extremamente importante o trabalho das (os) Assistentes Sociais na equipe multidisciplinar de Cuidados Paliativos, pois é essa (esse) profissional que, por meio de suas ferramentas e seu conhecimento técnico, vai fazer o levantamento de dados necessários para maior proximidade com a realidade do paciente e sua família, identificando o perfil socioeconômico, composição familiar, condições de moradia, rede de apoio familiar, se atuante ou não, principais cuidadores, história de vida e, consequentemente, suas necessidades e fragilidades”, acrescenta Nádia.

Uma vez que o perfil socioeconômico e familiar do paciente é traçado, as (os) Assistentes Sociais têm a responsabilidade de intervir nas questões sociais identificadas que possam interferir e/ou influenciar, até mesmo impedir direta ou indiretamente, a proposta terapêutica e de cuidados. “Com isso, é possível garantir que o seu direito de acesso ao serviço de saúde seja respeitado. A atuação da categoria é continua, pois as mudanças no cotidiano ocorrem diariamente na medida que as necessidades por conta do tratamento e dos cuidados que o paciente demanda vão surgindo”, esclarece Nádia.

“O trabalho das (os) Assistentes Sociais em cuidados paliativos, mesmo na iminência do fim de vida do paciente, deve ser reconhecido na perspectiva da cidadania e da democracia. É necessária a compreensão ética dos cuidados e da humanização da ação, imprimindo princípios e valores em busca da qualidade do atendimento e do aprimoramento profissional”, finaliza Alexsandra.

Dia Mundial do Câncer

O Dia Mundial do Câncer é uma campanha criada pela União Internacional para o Controle do Câncer (UICC), e tem como objetivo incentivar, mobilizar e inspirar mudanças e ações de combate à doença. Cada campanha organizada pela UICC tem duração de três anos.

A nova campanha busca falar sobre as barreiras que impendem as pessoas em todo o mundo de terem acesso, principalmente, aos cuidados fundamentais de prevenção e, em seguida, ao tratamento adequado e equitativo da doença. A falta de investimento, recursos e a inequidade do tratamento afeta o controle do câncer em todo o mundo.

Alguns dos fatores que podem afetar negativamente o controle da doença no mundo são a renda, a educação, o local de moradia e a discriminação por etnia, gênero, orientação sexual, idade, deficiência e estilo de vida. Mas, segundo a UICC, essas barreiras podem ser superadas.

Essa luta depende de todas (os), que podem participar compartilhando informações em redes sociais e divulgando os materiais da campanha. Saiba mais sobre acessando o site do Inca (ou clicando aqui).