A relação entre o Serviço Social e a efetivação de direitos da população Trans foi o tema do 1° Colóquio- Reflexões Críticas sobre os Direitos das pessoas trans, realizado no dia 14 de maio pelo CRESS/PR, como uma das atividades programas para a Semana do/a Assistente Social.
Lotando o auditório do CRESS/PR, estiveram presentes diversos/as assistentes sociais, estudantes e representantes de algumas entidades, para participar do debate junto à presidente do Transgrupo Marcela Prado, Rafaelly Wiest e do Conselheiro do CRESS/PR, Uilson José Gonçalves.
O tema foi escolhido a partir da necessidade de se discutir a transfobia, questão pautada raramente. A escolha também remete ao Dia Mundial de Combate a LGBTfobia, celebrado em 17 de maio.
“Falam que tal mulher é trans e tal mulher é biológica. E eu, não existo biologicamente?”
Em fala esclarecedora, a presidente do Transgrupo Marcela Prado, Rafaelly Wiest, expôs para o público o conceito de transexualidade. Ela evidenciou a grande quantidade de profissionais que sabem pouco sobre as pessoas trans, inclusive assistentes sociais. Ressaltou a importância de acontecerem mais eventos que discutam a questão.
Rafaelly comentou sobre os termos que se utilizam para diferenciar pessoas trans de outras pessoas, como se a diferenciação fosse necessária. “Falam que tal mulher é trans e tal mulher é biológica. E eu, não existo biologicamente? Ou então falam que uma mulher é trans e a outra é mulher de verdade. Eu não existo de verdade?”. Complementou ainda que esta divisão é mentirosa, visto que todos são diferentes, não importando a divisão de sexo biológico, gênero e orientação sexual. “Aqui não tem nenhum homem igual ao outro, nenhum mulher igual à outra. Então somos todos diferentes e o mesmo vale para a pessoa trans”, enfatiza.
Sobre preconceito e transfobia, a presidente do Transgrupo comentou que em todo lugar a pessoa trans acaba virando alvo de comentários. “Se a pessoa é atendida em algum lugar público, geralmente fica o pessoal cochichando. Vira assunto do dia”, cita. Rafaelly ainda ressaltou que muitos se sentem no direito de perguntar se a pessoa é operada ou não, como se isso tivesse alguma relevância para eles. “Que influência tem a genitália da pessoa nas diversas situações do nosso dia a dia?”, protesta.
“É uma questão de invisibilidade. Temos que ampliar o debate”
Depois da presidente do Transgrupo Marcela Prado, a fala foi passada ao conselheiro do CRESS/PR, Uilson José Gonçalves. O assistente social refletiu sobre a prática profissional do Serviço Social e o recorrente despreparo no atendimento às pessoas trans. “Na maioria dos ambientes de trabalho dos/as assistentes sociais ninguém conhece o Plano Estadual de Políticas LGBT, por exemplo. Este tema não é debatido. Quando chega uma pessoa trans, ninguém sabe lidar”. Ele ressaltou que a partir do momento em que o assistente social não garante o atendimento correto, ao invés de efetivar direitos está agindo como violador de direitos. “É uma questão de invisibilidade. Temos que ampliar o debate”.
Uilson reconheceu que o CRESS/PR tem sido parceiro da causa LGBT e que a aproximação especificamente com a causa da pessoa trans é algo que ainda está em construção. O conselheiro também citou uma das principais iniciativas do conjunto CFESS/CRESS ligadas à causa, que é a garantia de assistentes sociais usarem o nome social na carteira e na cédula de identidade profissional desde a Resolução CFESS n° 615/2011.
Em sua fala Uilson lembrou o público sobre o “Seminário Nacional Serviço Social e Diversidade Trans: exercício profissional, orientação sexual e identidade de gênero em debate”, organizado pelo CFESS e CRESS/SP, que acontecerá nos dias 11 e 12 de junho.
A presidente do CRESS/PR, Wanderli Machado, complementou a fala de Uilson afirmando que é compromisso da categoria garantir direitos da população trans, e que o debate é apenas inicial, estando previstas novas etapas. “Somos fruto de uma sociedade que viola direitos e que ensina o preconceito, mas o nosso compromisso é combater estes preconceitos”, enfatiza.
Participante do evento, a professora do curso de Serviço Social Jussara M. de Medeiros contou que o tema despertou o interesse de seus estudantes, que fizeram questão de participar do evento. “É um debate raro e de muita relevância”, afirmou. Entre os estudantes presentes, Rodrigo Nascimento considerou o evento importante para fortalecer o compromisso ético da profissão com tema, aproximando categoria e estudantes. “Não temos o debate em nenhum ambiente, seja acadêmico, seja nos espaços de trabalho. Quando acontecem situações envolvendo pessoas trans, os debates ficam apenas nos equipamentos públicos. Acontecem comentários, mas o debate não volta à categoria”, comentou.
Lançamento do livro “Jamily, a holandesa negra – a história de uma adoção homoafetiva”
Após o debate, o evento contou com lançamento do livro “Jamily, a holandesa negra – a história de uma adoção homoafetiva”, de Alysson Miguel Harrad Reis, filho de um casal militante LGBT (Toni Reis e David Harrad).
Os participantes do evento ainda aproveitaram para assistir, acompanhados de um coquetel, a apresentação de Kauana Karas, que o homenageou os 73 anos de Clara Nunes em “O Canto da Claridade”.
Confira as fotos do evento: