No Dia da Consciência Negra, é preciso desconstruir o mito da democracia racial”, afirma assistente social

No próximo domingo, 20 de novembro, é celebrado o Dia da Consciência Negra no Brasil, data instituída em 2011 alusiva à morte de Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares e importante figura histórica brasileira na resistência à escravidão. E para a Assistente Social e Professora, Andréa Pires Rocha, além do combate ao racismo, a data também desperta o debate sobre a desconstrução do mito da democracia racial.

Andréa, que é docente do Departamento de Serviço Social da UEL (Universidade de Londrina), afirma que dentro do Serviço Social brasileiro, por muitos anos, pensou-se que resolvendo a questão de classe, seria resolvida todas as outras expressões da questão social. No entanto, agora a leitura tem avançado no sentido de reconhecer que o racismo estrutural delineia a relações sociais brasileiras.

“Dentro destas reflexões sobre as relações étnico raciais no Brasil, é preciso entender o racismo como um elemento que estrutura a sociabilidade burguesa, não só colonial. Dentro da história brasileira, houve uma construção, especialmente partindo do Gilberto Freire, a miscigenação leva o país para uma condição de igualdade racial. E essa leitura é muito perversa”, discorre a pesquisadora.

Para Andréa, essa visão proposta pelo sociólogo e antropólogo brasileiro nega a desigualdade. “Aquelas pessoas que serviram de mão de obra escravizada são excluídas das relações de trabalho livre no contexto do capitalismo, por conta do racismo. E quando se acredita no mito de que existe uma democracia racial, impede-se a busca o fortalecimento de políticas de reparação das desigualdades que atingem a população negra brasileira”, analisa.

Andréa afirma ainda que o mito da democracia racial influencia o pensamento conservador e até mesmo algumas linhas de pensamento crítico.

“Por muitos anos, houve essa interpretação de que não existe desigualdade racial no Brasil. Mas, por sorte, a gente tem avançado muito nisso dentro do pensamento crítico, considerando que o racismo estrutura o capitalismo e isso é um grande avanço político para o Serviço Social”, pondera.

13 de maio x 20 de novembro

Andréa contrapõe o Dia da Consciência Negra com o 13 de maio, Dia da Abolição da Escravatura.

“Foi uma abolição incompleta, sem reparação. Então o 13 de maio invisibiliza o protagonismo negro dessa luta, da construção coletiva do movimento quilombola e das insurreições negras que causaram fissuras no modelo colonial e na sociedade escravocrata. Aproveito para sugerir a leitura do Clóvis Moura”, destacou.

Para ela, o 20 de novembro vem trazer a consciência de luta, de resistência e de força do movimento negro. Por isso, é importante comemorar a data e é essencial resgatar memórias que se contrapõem ao projeto genocida que se voltou contra a população negra brasileira.

Ações coletivas

Já André Henrique Mello Correa, do Nucress Ponta Grossa, destaca a importância do fortalecimento das ações coletivas na agenda antirracista do Serviço Social Brasileiro.

“Destaco a recente nota técnica publicada sobre o trabalho de assistentes sociais e a coleta dos quesitos raça, cor, e etnia como elementos centrais e no fortalecimento do horizonte da luta de racista nome da formação em trabalho profissional”, salientou André, que também é mestrando em Serviço Social pela UFRJ. Universidade Federal do Rio de Janeiro.