Em média, salário pago às mulheres é 20% menor do que o dos homens

ParaTodasVerem no topo da imagem está o título “Violência de gênero e preconceito – a inserção das mulheres no mercado de trabalho. O fundo da imagem apresenta o que se assemelha a pedaços de diferentes papeis rasgados. No centro duas mulheres em tonalidades de cinza aparecem sentadas com o traço fino sobre os olhos. Na parte de baixo, ao centro, está o logo do CRESS-PR.

Em pleno 2022, o mercado de trabalho ainda é machista. Uma prova disso é a diferença salarial entre os gêneros: em média, as mulheres ganham 20% menos que os homens. Os dados são de um levantamento da consultoria IDados, feita exclusivamente para o G1 com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio do IBGE. O Conselho Regional de Serviço Social do Paraná (CRESS-PR) apoia a luta contra a sociedade patriarcal e o machismo estrutural que molda nossa sociedade e contribui pela falta de representação das mulheres na política e reconhecimento da luta histórica por direitos e igualdade.

Segundo Emanoele Cristina da Costa, Assistente Social da Secretaria de Estado da Saúde lotada na 2ª Regional Metropolitana de Saúde de Curitiba, a contribuição do Serviço Social nessa luta é importantíssima. “A atuação das (os) Assistentes Sociais é engajada na luta social, caracterizada pela defesa intransigente dos direitos humanos, princípios da igualdade, da liberdade, da justiça social, bem como o compromisso com a autonomia, emancipação e defesa da democracia e cidadania”, destaca.

O Dia Internacional da Mulher foi celebrado na semana passada. A data é marcada pela luta de inúmeras mulheres contra a desigualdade salarial. Por isso é importante destacar as conquistas históricas, como o direito ao voto. Segundo Elza Maria Campos, Assistente Social especialista em Políticas Públicas, Mestre em Educação e integrante do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Curitiba e da Câmara Temática de Ética e Direitos Humanos do CRESS-PR, a luta pela a igualdade de gênero, tendo por pano de fundo todas as mudanças estruturais e batalhas dos movimentos de mulheres ao longo do século XX, teve avanços. “Destaco a década de 1960, que introduziu questões antes restritas à esfera da vida privada, trazendo ao debate público temas como sexualidade e corpo feminino. Esse movimento também lutava por liberdades democráticas num país em que elas estavam constrangidas pela ditadura militar instalada em 1964”, contextualiza.

O impacto desses movimentos foi importante para que, na década de 1980, fossem implantadas as primeiras políticas públicas com recorte de gênero, como os Conselhos de Direitos das Mulheres e as Delegacias de Defesa da Mulher. “Foi também a mobilização de mulheres que levou à instituição do Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher, em 1983. Findo o ciclo autoritário militar, no movimento pela nova Constituição em 1986 e 1988, assomou com força a palavra-de-ordem Constituinte pra valer tem que ter palavra de mulher, materializado em iniciativas apresentadas aos constituintes como a Carta das Mulheres Brasileiras, que incluía temas relativos à saúde, família, trabalho violência, discriminação, cultura e propriedade da terra”, completa Elza.

Em todo este processo, o movimento feminista contribuiu para a inclusão da questão de gênero na agenda pública, nos debates na academia, nas lutas sociais como uma das desigualdades a serem superadas por um estado laico e democrático. Ou seja, o movimento contribuiu para a formulação de propostas de políticas públicas que contemplassem a questão da mulher. O feminismo é um movimento revolucionário, que contribui com a luta por meio da compreensão da maneira como o patriarcado é estruturado.

Segundo Priscila Brasil, Assistente Social e 1° Secretaria da Gestão atual do CRESSPR, não existe nenhuma via de reforma para esse sistema, já que ele é organizado unicamente baseado na exploração das mulheres para conceder profundos privilégios à classe masculina. “É por isso que o feminismo não luta por igualdade por dentro do patriarcado. Antes, entendemos que a igualdade só é possível com a derrubada deste sistema. Só existe uma estrutura patriarcal, com um sistema capitalista, só existe racismo, porque existe uma lógica de dicotomia e desigualdade. Onde uma classe, seja sexual, social ou racial, explora sistematicamente a outra, não existem mecanismos possíveis que anulem esse jogo de forças. No máximo, o que a estrutura permite são medidas paliativas que suavizam a tensão entre os polos, sempre em benefício da classe dominante”, explica.

O feminismo é naturalmente anticapitalista e antirracista, pois não há como pensar em desmantelamento do patriarcado sem derrubar o principal pilar que o sustenta: o capitalismo. Segundo Priscila, de maneira pragmática, as pautas feministas se organizam lutando contra os pontos considerados estratégicos para a manutenção do patriarcado.

“A hierarquia que combatemos é estruturada por meio da socialização para papéis sociais baseados no sexo de nascimento, como o gênero, que é a socialização de meninas para a subalternidade (feminilidade), que acontece desde o nascimento; e a socialização de meninos desde o seu nascimento para a dominância (masculinidade). Feministas lutam pelo fim das amarras da feminilidade, o que significa falar contra a socialização para a docilidade, subserviência, sensualidade e padrões de beleza”, exemplifica a Assistente Social.

Sobre os preconceitos e desigualdades enfrentadas pelas mulheres ainda hoje, Ana Lucia Dourado, Assistente social Residente do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família de Cascavel destaca que as mulheres que se encontram nesta condição, primeiramente precisam identificar tal desigualdade. “Após esse reconhecimento, acredito que por meio da organização coletiva e da busca do conhecimento diário, deve lutar pela emancipação das mulheres e o enfrentamento ao machismo”, explica.

O preconceito contra às mulheres e a violência sexual sofrida por mulheres em todo país a cada dez são motivadas pelo discurso machista e opressor do atual Governo, que não possui qualquer tipo de representatividade e promove o desmonte de ações, programas e projetos que visam a proteção à mulher em todos os aspectos. “Nos 13 anos de governos populares, tivemos avanços significativos como a realização das diversas Conferencias de Políticas Públicas e entre elas a de Mulheres que galvanizou milhares de mulheres brasileiras”, destaca Elza. Segundo Luana Garcia Campos, Assistente Social que atualmente está como coordenadora do Serviço de Proteção Social Especial para Pessoas com Deficiência, Idosas e suas famílias da Política de Assistência Social de Londrina, para ampliar a participação das mulheres no mercado de trabalho é de grande importância as políticas de ações afirmativas nos diversos campos de atuação. “Isso para reconhecer e reafirmar as condições das mulheres como sujeitos sociais e políticos, ampliando sua participação nos diversos espaços, principalmente nos socialmente reconhecidos como ambientes masculinos. Há também a necessidade de discutir a igualdade de gênero para os mais diversos espaços, como as escolas, empresas, entre outros, com o intuito de exterminar a cultura machista ainda tão presente nesses espaços”, finaliza.