Mais de 640 mil brasileiros e brasileiras perderam a vida por causa da Covid-19. A pandemia do coronavírus pegou todos de surpresa e trouxe mudanças significativas para a vida em sociedade e o mercado de trabalho. Quase dois anos depois do início do isolamento social, mesmo com a vacinação sendo realizada, ainda são muitos os desafios enfrentados. Tais desafios tornam-se ainda mais preocupantes pelo discurso negacionista do Governo e pelo movimento antivacina. Mas como esse advento afetou a saúde das (os) Assistentes Sociais?
As (os) Assistentes Sociais atuaram nas mais diversas políticas públicas desde o início da pandemia. Nos Centros de Referência da Assistência Social (CRAS), nos Centros de Referência de Assistência Social (CREAS) e unidades de acolhimento. Na política de Saúde, a categoria atuou em todos os serviços, nas unidades básicas, consultórios na rua, atendimento domiciliar, ambulatórios, Urgência e Emergência, Unidades de Pronto Atendimento (UPAS), hospitais de pequeno, médio e grande porte, entre outras diversas políticas de atendimento à população.
“As (os) Assistentes Sociais têm uma contribuição significativa e valiosa no atendimento de toda a população na perspectiva de acesso e garantia de direitos, acesso as políticas públicas e continua sendo um profissional essencial no enfrentamento da COVID-19”, explica Andréa Braga, presidenta do Conselho Regional de Serviço Social do Paraná (CRESS-PR).
Segundo Patrícia de Oliveira dos Santos, Assistente Social da 9ª Regional de Saúde, os impactos da pandemia na saúde da categoria estão ligados diretamente a sobrecarga de trabalho. “Éramos trabalhadoras (es) na linha de frente sem o reconhecimento dos nossos governantes. Houve demora no fornecimento de EPIs e vacinas aos profissionais da Política de Assistência Social”, explica.
A Assistente Social relembra que mesmo com medo de se contaminarem, a equipe do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) a qual pertencia seguiu trabalhando incansavelmente. “Não tínhamos direito de ficar em casa quando a pandemia começou no Brasil, e isso se dá pela natureza da nossa profissão. As (os) Assistente Sociais são chamadas (os) a atuar no caos da desproteção a vida”.
Opinião compartilhada por Hellen Patrícia Zaine Matsumoto, Assistente Social atuante no ambulatório de saúde mental de Paranavaí. “Durante esse período pandêmico, Assistentes Sociais inseridas (os) nos mais diversos campos de atuação foram essenciais. As jornadas extras de trabalho e o medo de contaminação trouxeram muitos prejuízos à saúde mental de muitas (os) colegas”, enfatiza.
Desafios
Os principais desafios trazidos pela pandemia ao trabalho das (os) Assistentes Sociais foi repensar e reinventar a intervenção profissional. “A pandemia demanda muito mais do que aquilo que era cotidiano na atuação da profissão”, conta Patrícia, que passou a atuar na Política de Saúde em janeiro de 2021, mas desabafa que “a sobrecarga de trabalho continua exaustiva e não há previsão de contratação de mais profissionais pelo Estado do Paraná.”.
Hellen completa que a maior dificuldade que encontrou foi o fato de não ter mais horário definido, principalmente por conta da utilização de aplicativos de celular acabam nos mantendo conectados constantemente e a adaptação aos protocolos, como protetor facial, máscara, distanciamento social, entre outros, além da teleconsulta. “Os usuários dos serviços sempre tiveram um vínculo sólido com o serviço social e essas medidas necessárias prejudicaram o nosso trabalho”.
CRESS-PR na luta pelo direito das (os) Assistentes Sociais
Durante a pior fase da pandemia, Patrícia lembra que como foi trabalhar com os limites impostos. “Muito desgaste fisicamente e mentalmente. Tinha medo da contaminação, pois além de ser Assistente Social, sou esposa, filha, irmã… Sei que muitas (os) colegas perderam a vida trabalhando na linha de frente contra à Covid-19, o sentimento era de desesperança”.
Hellen explica que foram necessárias grandes mudanças na rotina pessoal e profissional. “No meu local de trabalho criamos um grupo de apoio onde tínhamos um lema ‘ninguém solta a mão de ninguém’. Todos se apoiavam. Isso foi fundamental para garantir o bem-estar da equipe. Mas, como eu, muitos colegas desenvolveram ansiedade, entre outros transtornos”.
Os depoimentos das Assistentes Sociais é um exemplo de como a atuação da categoria não recebe o devido reconhecimento. “Desde o início da vacinação, o CRESS-PR não mediu esforços para que as (os) Assistentes Sociais entrassem como grupos prioritários para vacinação, pois eram profissionais que estavam em maior situação de risco atuando diretamente na linha de frente. Foram incidências permanentes com o governo do Estado, municípios, nos meios de comunicação em massa, até que fosse garantida a vacinação para todas (os), tendo como luta maior o acesso à vacina”, destaca Andréa.
Mudanças significativas
Em janeiro deste ano, Patrícia positivou para Covid-19, mas passou o período de isolamento sem complicações graças a vacina. Mesmo com mais de 152 mil pessoas já vacinadas com as duas doses da vacina, ainda que não voltamos 100% a normalidade. Por isso, o CRESS-PR reafirma a importância de serem mantidos os protocolos de segurança e higiene no exercício profissional. “Estou mais tranquila e aliviada por estar vacinada. A maior mudança é se sentir mais segura para exercer a profissão. Nem todos os pacientes que atendo tomaram a vacina por escolha pessoal. Não vou deixar de prestar atendimento a este público, porém, minha saúde é prioridade”.
Patrícia acredita ainda que muitas das mudanças vieram para ficar, como o uso da tecnologia ligado internet. “A pandemia nos demostrou que é possível evitar o deslocamento para poder participar de muitas atividades, como reuniões, discussões de casos, fórum, capacitações. No entanto, os encontros presenciais são minha preferência”.
Para Hellen, houveram alguns avanços no período da pandemia. “No município onde trabalho, o Serviço Social tem conquistado o seu espaço, sendo convidado a contribuir em várias frentes, e isso foi conquistado durante a pandemia. Implantamos o projeto de atendimento em saúde mental especifico para os servidores e reorganizamos as ações com intuito de otimizá-las”, finaliza.