CRESS-PR enfatiza a importância das Assistentes Sociais na produção de conhecimento científico

Instituído em 2015 pela Organização das Nações Unidas (ONU), o dia 11 de fevereiro é conhecido como o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência. O objetivo da data é conscientizar a sociedade sobre a participação das mulheres na produção de conhecimento e enfatizar a todas (os) que a ciência e a igualdade de gênero caminham lado a lado a fim de enfrentar os principais desafios mundiais.

Segundo a Unesco, apenas 30% de cientistas no mundo são mulheres. No Brasil, apenas 14% das posições na Academia Brasileira de Ciências são ocupadas por elas. Outro dado interessante é que apenas 22 mulheres ganharam o Prêmio Nobel nas áreas de ciências – que já premiou 622 pessoas desde sua criação, em 1901. A ciência é caracteriza pelo experimento e afirmação. Mesmo que o Serviço Social não tenha essa prerrogativa, o Conselho Regional de Serviço Social do Paraná (CRESS-PR) enfatiza a importância da data, pois a profissão é majoritariamente feminina.

“O Serviço Social não é ciência, e sim um trabalho especializado da dimensão sociotécnica do mundo do trabalho. Porém, é importante destacar que Assistentes Sociais realizam a produção de conhecimento científico porque tem entre suas competências e atribuições a produção de pesquisa e processos científicos de análise da realidade e das relações sociais”, explica a presidenta do CRESS-PR, Andréa Braga.

Maria Inez Barboza Marques é um bom exemplo do trabalho científico realizado pela categoria. Doutora em Serviço Social pela PUC-SP, docente do curso de Serviço Social da Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR/Campus Paranavaí) e coordenadora do Grupo de Pesquisa Gênero, Trabalho e Políticas Públicas e do Núcleo Maria da Penha da mesma universidade, Maria Inez estuda gênero desde a década de 1990. “Minha tese de doutorado, na PUC São Paulo, orientado pela professora Maria Lúcia Martinelli, foi sobre a Divisão Sexual do Trabalho. Mas mesmo antes do doutorado, aprofundei meus estudos nas questões de gênero em sua transversalidade com as questões de classe, raça, etnia e sexualidade”, explica.

Essa caminhada levou Maria Inez a implantar no campus da UNESPAR, em Paranavaí, onde atua como professora, o Grupo de Pesquisa Gênero, Trabalho e Políticas Públicas, que é cadastrado no CNPQ. “Em 2018, por meio da minha mediação, implantamos o Núcleo Maria da Penha (NUMAPE) na universidade, que conta com Advogadas, Assistentes Sociais e estagiárias das duas áreas para atender as mulheres em situação de violência doméstica e intrafamiliar no município de Paranavaí”, conta.

“Entendo que o estudo de gênero, na sua transversalidade com as questões de classe, raça/etnia e sexualidade é fundamental na formação e atuação profissional e pode contribuir com respostas às demandas da sociedade”, acrescenta.

O Serviço Social contribui para produção de conhecimento científico de diversas formas. Os cursos de Serviço Social vêm investindo cada vez mais no tripé ensino, pesquisa e extensão. “A pesquisa tem lugar de destaque, seja por meio da iniciação científica, dos grupos de pesquisa, do estágio e outras possibilidades nesse contexto. Há que se ressaltar também, a centralidade da pesquisa nas Diretrizes Curriculares da ABEPSS. Também é considerável a produção científica da parte das (os) profissionais que atuam no mercado de trabalho em diferentes espaços sócio-ocupacionais”, garante Maria Inez.

Andréa explica que o Serviço Social é uma profissão particular inscrita na divisão social e técnica do trabalho coletivo da sociedade e que a formação profissional demanda a interação com inúmeros fatores da vida cotidiana, sendo a pesquisa científica um dos meios adotados para conhecê-los. “Como profissionais também atuamos como pesquisadores e formadores. Destacamos a importância da atitude investigativa para que haja uma reflexão contínua sobre o exercício profissional, como uma forma de produzir conhecimentos, e temos contribuições significativas de pesquisa acadêmica nas mais diversas áreas. Há um número crescente de publicações do Serviço Social no Brasil e uma vasta produção de conhecimento. Há também o reconhecimento da pesquisa no Serviço Social na institucionalidade científica no CNPq como área de conhecimento, vinculada as Ciências Sociais Aplicadas e na CAPES, como área de produção de conhecimentos”.

O trabalho científico também pode ser realizado pelas Assistentes Sociais e desenvolvido na própria sistematização do conhecimento a partir da atuação profissional, quando acontece a produção de relatórios, artigos científicos e outros. “No âmbito das universidades, por meio dos grupos de pesquisas, projetos de ensino e de extensão. As produções são publicadas em eventos científicos e publicadas em periódicos, livros e outros”, acrescenta Maria Inez.

Instrumentalidade

No Serviço Social, a instrumentalidade não se refere somente ao conjunto de instrumentos e técnicas, mas uma determinada capacidade ou propriedade constitutiva da profissão, construída e reconstruída no processo sócio-histórico, conforme a análise de Yolanda Guerra (2000).  O Serviço Social constitui uma profissão que atua na viabilização dos direitos da população. Segundo a presidenta do CRESS-PR, essa constatação exige as seguintes premissas para o exercício do assistente social: Clareza na dimensão teórico-metodológica, com referencial teórico crítico que possibilite a leitura da realidade e análise das relações sociais, a orientação ético-política do atendimento às necessidades (com respostas às requisições da sociedade conforme compromissos com valores e princípios) e ainda instrumentos e técnicas manejadas como meios  para alcance das finalidades profissionais (e não como fins em si mesmos aplicáveis de modo neutro).

“Neste sentido, podemos enfatizar que o Serviço Social no âmbito da investigação, o qual constitui uma práxis transformadora e imprescindível, seja na esfera acadêmica ou na atuação do exercício profissional, vinculado nas diretrizes curriculares e no projeto profissional que visa à interlocução da teoria crítica, competência técnica e o compromisso ético e político”, explica Andréa.

A instrumentalidade do Serviço Social contribui diretamente para intervir e analisar a realidade social. Segundo Maria Inez, o cotidiano é o espaço para a realização das ações instrumentais por meio do exercício profissional crítico e comprometido com as transformações sociais, que podem e devem ocorrer nos diferentes contextos através da mediação profissional da (os) Assistentes Sociais. “A instrumentalidade é uma ferramenta importante de mediação, fundamental para contribuir para o exercício da análise da realidade social, política, econômica, cultural e, consequentemente, na intervenção profissional”.

Produção científica em Serviço Social

O Serviço Social envolve muito conhecimento teórico. A unidade teoria-prática é condição para a atuação profissional coerente com as demandas da profissão. “A teoria “ilumina” o fazer profissional e contribui para o desvelamento das questões que envolvem a realidade social, que é multifacetada. Por esse ângulo, a pesquisa, o estudo das expressões da questão social, é fundamental para a atuação contextualizada, com capacidade de responder aos anseios da população que é público-alvo das políticas públicas e consequentemente da ação profissional no âmbito das equipes multiprofissionais, que atuam nas instituições públicas, privadas e do terceiro setor”, destaca Maria Inez.

Andréa acrescenta que a pesquisa em Serviço Social não está voltada apenas para a descrição ou reflexão de dados, mas se constitui uma atividade transformadora, a qual tem o objetivo de construir os diversos conhecimentos sobre as múltiplas expressões da questão social que refletem a desigualdade produzida e reproduzida na sociedade capitalista. “Para produzir conhecimento as Assistentes sociais têm aproximação, explicação e apreensão dos aspectos sociais, econômicos, políticos e cultuais da realidade social, buscando encontrar respostas diante os desafios que são postos para a sociedade em geral”.

São muitas as conquistas pela produção das Assistentes Sociais, principalmente a partir da década de 1980, quando o Serviço Social sofre a influência da teoria social crítica. Maria Inez explica que, posteriormente, a afirmação do materialismo histórico-dialético como direção social nos cursos de Serviço Social vem contribuindo sobremaneira para a produção científica no contexto da sociedade capitalista. “O Serviço Social tem referências importantes no Brasil. Nomes como Marilda Villela Iamamoto, Maria Lúcia Martinelle, Maria Carmelita Yasbec, José Paulo Neto, entre outras (os), são fundamentais no reconhecimento da produção científica e deixam um legado à categoria que tem essas (es) como paradigma e dão continuidade a esse legado”, finaliza.

Papel do CRESS-PR na formação profissional da categoria

Desde 2021, o conjunto CFESS/CRESS tem a Política de Educação Permanente. Essa política é fruto de muita discussão e trabalho coletivo com as contribuições da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS) e da Executiva Nacional dos Estudantes de Serviço Social (ENESSO) e prevista no CRESS-PR em diversas atividades previstas pelo conselho. “O intuito é fortalecer a formação e o exercício profissional e contribuir para a garantia da qualidade dos serviços prestados à população usuária do Serviço Social brasileiro e o processo de formação contínua de Assistentes Sociais. A gestão do CRESS-PR enfatiza a Política de Educação Permanente e entende que essa deve se valer de uma dimensão política e pedagógica de reafirmação de valores e conteúdos que expressem a direção social estratégica da nossa profissão”, finaliza Andréa.