Dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde, extraídos pelo Portal Bem Paraná, apontam que o Paraná registrou 1.036 mortes decorrentes de sofrimento psíquico. As informações disponibilizadas no SIM dizem respeito ao ano de 2020, e mostram que o estado atingiu pelo terceiro ano consecutivo recorde no número de óbitos relacionados ao sofrimento psíquico.
Segundo o Bem Paraná, entre 2019 e 2020, houve um aumento de 13,6% no número de óbitos relacionados ao sofrimento psíquico. Em 2019, foram registrados 912 falecimentos. Entre 2011 e 2020, os números são estarrecedores: foram 8.529 mortes desse tipo. “Isso dá uma média de cinco óbitos a cada dois dias ou ainda um falecimento relacionado a transtornos mentais e comportamentais a cada 10 horas, aproximadamente”, informa a matéria do Bem Paraná, que você pode ler na íntegra clicando aqui.
O Conselho Regional de Serviço Social do Paraná (CRESS-PR) destaca a importância de falar sobre saúde mental. Segundo a Assistente Social e 1ª Secretária da gestão Unidade na Resistência, Ousadia na Luta (2020-2023) do CRESS-PR, Priscila dos Santos Brasil, que atua como servidora pública estadual no Hospital Adauto Botelho, “falar em saúde mental e, principalmente em prevenção em saúde mental, só é possível quando partimos do princípio que está diretamente ligada à qualidade de vida e à garantia do mínimo para viver com dignidade”.
Ou seja, Priscila explica que antes de abordar qualquer assunto relacionado à saúde mental é necessário discutir políticas de saúde, educação, esporte e lazer, assistência social, empregabilidade, entre outras. “Sem o fortalecimento dessas políticas públicas não é possível discutir saúde mental. Afinal, só cuidar de todos sintomas e do adoecimento com foco na medicalização sem alterações concretas no contexto social não adianta nada”, enfatiza.
O sofrimento psíquico, também conhecido como transtorno mental, está inserido no Capítulo V da Classificação Internacional de Doenças (CID-10). Esquizofrenia, transtornos do humor [afetivos], transtornos mentais orgânicos ou devidos ao uso de substância psicoativa, transtornos neuróticos, transtornos relacionados com o estresse, transtornos da personalidade, transtornos do desenvolvimento psicológico, entre outros, são identificados pelo CID-10.
Priscila explica que os principais fatores que afetam a saúde mental das pessoas estão ligados ao conflito capital e trabalho. “O sistema capitalista adoece quando não garante o mínimo para a sobrevivência da população, adoece pelo racismo e desemprego estrutural, adoece pela fome, violência e pela falta de políticas públicas que garantam a dignidade do ser humano. Sendo assim, é mais uma expressão da questão social”.
A Assistente Social acrescenta que as políticas públicas de prevenção em saúde mental vêm sofrendo desmonte, e o foco tem sido a venda de serviços que gerem lucros para o capital. “Mais do que nunca a saúde é tratada como uma mercadoria. O objetivo não tem sido o cuidado em liberdade e no território de origem do sujeito, e sim o envio desse sujeito para instituições totalitárias, como hospitais e comunidades terapêuticas, onde há segregação do indivíduo da sociedade e a culpabilização da sua condição. Afinal, não é levado em consideração que o adoecimento em saúde mental é gerado pela exploração da classe trabalhadora que ocorre no sistema capitalista”.
Pandemia
Com o isolamento social imposto no início da pandemia, o uso abusivo de álcool e drogas aumentou drasticamente – um dos fatores de risco associado ao suicídio. Em 2021, a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou o Atlas de Saúde Mental (Mental Health Atlas, em inglês) que mostra um cenário mundial alarmante: a falta de investimento dos países em saúde mental. O Atlas inclui dados de 171 países, e mesmo que o assunto venha sendo abordado em grande escala nos últimos anos, a falta de progresso, investimento e financiamento em saúde mental é gigantesca.
Como as (os) Assistentes Sociais podem contribuir para prevenção?
Segundo Priscila, neste momento crítico que vivemos, com o desmonte da política pública de Saúde mental e o desfinanciamento dos Centros de Atenção Psicossociais (CAPS) e da atenção básica, os investimentos têm sido feitos em equipamentos que não garantem o cuidado em liberdade, como os hospitais psiquiátricos e comunidades terapêuticas.
“É de extrema importância a participação da categoria de Assistentes Sociais nas conferências municipais, regionais e estaduais de Saúde Mental, pois, nestes espaços são travadas disputas por recursos e concepções ideológicas que nortearão a política de Saúde Mental. A participação das (os) Assistentes Sociais também é necessária para a construção de estratégias que possibilitem a participação dos usuários, pois o fortalecimento do controle social é uma estratégia concreta que proporciona a construção de uma política em Saúde Mental antimanicomial”, garante.
Campanha Janeiro Branco: afinal, do que se trata?
Todo primeiro mês do ano é realizada a Campanha Janeiro Branco, que nasceu há alguns anos por iniciativa de profissionais de forma isolada e sem vínculos a políticas públicas. Segundo Priscila, logo, a campanha não faz parte da agenda das políticas públicas e não tem ações efetivas por parte dos municípios, estados e do Governo Federal. “O maior engajamento é realizado pelas clínicas particulares, que veem na campanha uma oportunidade de vender o serviço que oferecem”.
Outro ponto a ser discutido é a escolha do nome da campanha. Ou seja, Janeiro Branco representa basicamente a medicina, não a saúde. “Não podemos esquecer do “ato médico”, luta política histórica de resistência travada contra a total apropriação da saúde pela medicina, sendo que neste caso a cor escolhida para representar, no caso o branco, é corporativa, socialmente significada e simbólica. Além de que utilizar a cor branca para qualificar um modelo de saúde a ser alcançado em um país racista é um desserviço à própria saúde, pois a população negra é a que sofre com a lógica higienista e eugenista da nossa sociedade. Ignorar o racismo estrutural e todas as suas consequências é um fator adoecedor em saúde mental”, finaliza a Assistente Social.
Neste sentido, o CRESS-PR, considerando os valores éticos da profissão, enfatiza a importância da defesa da saúde mental e seu financiamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS), na concepção da atenção psicossocial, respeitando a dignidade humana. Saúde mental precisa de atenção todos os meses e todos os dias e é dever do Estado a garantia de condições.
Busca por ajuda
A principal porta de acesso à política de saúde mental é a Atenção Primária à Saúde. A população deve procurar a Unidade Básica de Saúde (UBS) de referência, onde, após avaliação, poderá ser encaminhada aos CAPS caso necessário. Senão, o acompanhamento será realizado na própria UBS. Em caso de urgência e emergência podem chamar o SAMU ou ir direto a uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA).
Fonte: Bem Paraná.