Um ano de pandemia e um cenário desolador: o Brasil precisa da vacina!

Crédito: Daniel Castellano/Prefeitura de Curitiba

A pandemia completou um ano no Brasil e o cenário é devastador. Até essa quinta-feira, já foram registrados mais de 288 mil mortos e mais de 11 milhões de casos de coronavírus. Estamos passando por um momento de colapso da saúde, com pessoas morrendo à espera de leitos na UTI, além de indicadores sociais e econômicos muito preocupantes, com aumento do desemprego, da pobreza, da fome e de inúmeras desigualdades.

Ao longo desse um ano, muita coisa mudou. Todos tiveram as suas rotinas impactadas pelo trabalho remoto, pela restrição e distanciamento social e pelos cuidados necessários. As desigualdades se afloraram e o Serviço Social se tornou ainda mais necessário ao longo desse tempo. Mas é na área da saúde que o atual momento foi ainda mais impactado. As equipes de saúde tiveram que se mudar: entender o comportamento do vírus rapidamente e adaptar procedimentos de trabalho ao atual momento. As equipes se sentiram sobrecarregadas, mas as (os) assistentes sociais se mostraram cada vez mais essenciais em hospitais, unidades de saúde e de outros serviços de saúde e assistência social em todo o Paraná. O trabalho tem sido um enorme desafio a cada dia.

Os brasileiros esperam pelas vacinas que têm demorado para chegar. A vacina representa a esperança e podem ser, de fato, a única maneira do Brasil sair de uma das suas piores crises da história. Mas enquanto ela não vem ainda é necessário manter todas as medidas de cuidados que já conhecemos.

Abaixo, conversamos com alguns especialistas da saúde que falam sobre esse um ano de pandemia, falam sobre os desafios do cenário político, econômico e social e sobre os desafios práticos do dia a dia no trabalho com a saúde.

Confira:

Crédito: Divulgação

Rômulo Paes de Sousa é médico e pesquisador titular da Fiocruz Minas. Já foi secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, entre 2009 e 2012 e diretor do Centro Mundial para o Desenvolvimento Sustentável da ONU

“Todos esperavam mais do Brasil no combate à pandemia, por conta da rede de saúde robusta e das experiências bem-sucedidas do país no combate a outras epidemias e doenças. Mas o Brasil fracassou porque não tomou as melhores decisões, não soube mobilizar suas competências e tomou medidas erradas em relação ao combate ao vírus como a falta de medidas eficazes como o uso de máscara e distanciamento social e a tomada de algumas decisões inócuas como o toque de recolher à noite. Houve diversas dificuldades na adoção dessas medidas e a informação muitas vezes foi desencontrada e descentralizada. No início, houve uma confusão para a detecção do vírus e ainda hoje temos vários problemas com isso. Precisávamos ter feito uma detecção ampla e adequada, o que nos permitiria identificar e combater as variáveis.

A grande saída hoje é a vacinação. Hoje há 12 vacinas disponíveis no mundo além de outros 77 testes. Se há um legado positivo desse período foi o da possibilidade de produzir vacinas de qualidade em um curto espaço de tempo. Temos alguns esforços no combate ao coronavírus mas para uma solução ampla e duradoura precisamos das vacinas. Tivemos erros importantes nisso. A aposta deveria ser pragmática e ampla. Deveria ter havido a compra das vacinas em agosto, a ampliação na compra das vacinas da Fiocruz, e a ampliação no acordo com a Covax (com participação de apenas 10%) e com a Coronavac. O Brasil errou muito e está pagando o preço por isso. São decisões importantes, mas estamos inseguros com as decisões que vêm sendo tomadas.

Do ponto de vista social, o Brasil estabeleceu a narrativa de que as medidas de prevenção iam na direção contrária da atividade econômico e no mundo inteiro a gente viu que se não resolver a saúde não se resolve a economia. O Brasil deveria ter unido o auxílio emergencial e outras ajudas econômicas a medidas de prevenção para o combate do vírus. Isso deveria ter sido um incentivo para as medidas mas se tornou uma ação completamente descolada. O Brasil realizou as medidas de forma desarticulada e até criou uma oposição com a saúde. A população ficou mais pobre do que antes da pandemia, houve regressos em indicadores socioeconômicos, estamos com setores fragilizados e famílias desestruturadas, com perdas de membros fundamentais também para a situação financeira delas. São muitos temas e o cenário é preocupante”.

Crédito: Acervo pessoal

Jackson Michel Teixeira da Silva é assistente social que atua na Fundação Estatal de Atenção à Saúde. É conselheiro do CRESS-PR e conselheiro municipal de Saúde de Curitiba.

“A pandemia representou a maior crise humanitária já vivida em nossas gerações. Trouxe à tona todo um desmonte das políticas sociais, a falta de emprego, a falta de cobertura da previdência social, as demandas da moradia, educação entre outros setores. É muito difícil para a população do país ter que arriscar entre morrer contaminado pelo covid, ou morrer de fome. Seguimos sem acesso universal a vacina para todas, sem leitos, sendo o epicentro do vírus no mundo e tendo a pior gestão em saúde no Ministério da Saúde.

A vacina é uma das nossas principais aliadas ao combate ao vírus. Infelizmente, pela incapacidade dos gestores do Ministério da Saúde, ela chega a passos curtos. Já temos estimativas apontando que só teremos uma ampla capacidade de imunização em março de 2022 e isso é desesperador, portanto devemos seguir os cuidados e manter o isolamento social evitando qualquer tipo de contaminação.

Os trabalhadores de saúde estão exaustos, assim como as (os) assistentes sociais em diversas políticas. Hoje contamos com assistente sociais em todas as instâncias do SUS, desde a atenção primária, a serviços avançados de urgência e emergência, UTIS, ambulatórios, hospitais de campanha, etc. O serviço social, ao atuar na saúde, na assistência social, previdência e outras políticas, está conectado sempre com ações que visam minimizar o impacto das mazelas da questão social. Trabalhamos diretamente com a população numa perspectiva de emancipação e na defesa intransigente dos direitos humanos. O trabalho da (do) assistente social ele é mais do que essencial, é necessário ao combate do vírus”.

Crédito: Acervo pessoal

Christiani Cassoli Bortoloto Lopes é assistente social em uma Unidade Básica de Saúde de Cascavel e conselheira do CRESS-PR. Além disso, é coordenadora e tutora da área específica do Programa de Residência Multiprofissional Saúde da Família em Cascavel.

“A pandemia trouxe mudanças na rotina das pessoas e virou o mundo de cabeça para baixo. Desde de março de 2020 não somos mais os mesmos. São preocupações incalculáveis, vidas transformadas, o medo associado e a adaptação com algo desconhecido que causou estranhamento e mudanças na rotina. Sem falar nas perdas e luto imensuráveis, o isolamento para evitar o contágio, o trabalho em home office, as aulas remotas, o uso de máscara, a distância da família e amigos que amam. A trouxe uma série de novas experiências que transformaram suas vidas. Para muitos exigiu habilidades até então desconhecidas no trato com a situação para outros uma experiência dolorosa pois mudar a rotina e adaptar ao novo não é tão simples assim, com danos para saúde mental, principalmente para as crianças onde a socialização é importante para o desenvolvimento delas.

O Serviço Social atua no acolhimento e atendimento contínuo e cada vez mais intenso com os sujeitos usuários dos diversos serviços, que vai desde a atenção básica, média e alta complexidade, além de atuar prestação de serviço de qualidade e no acesso aos direitos da população. Também é válido ressaltar a importância das (dos) profissionais que passaram a atuar em home office e tiveram que se adaptar. Também houve uma sobrecarga de trabalho para todas (todos) essas (esses) profissionais devido a uma conjuntura de falta de financiamento das políticas sociais públicas. Também houve o corte de programas e financiamentos na política de saúde mental em um momento em que o vírus também provoca sérios danos para as pessoas nessa área.

O cenário atual é desolador, com um sistema colapsado que precisa superar a política genocida que vem sendo adotada pelos governantes na demora do uso da vacina e o descaso para com o vírus. É preciso valorizar os profissionais da linha de frente e a importância do SUS para salvar vidas. O Estado precisa se comprometer com orientações para combater o vírus, com o destaque para o uso de máscaras, hábitos de higiene e distanciamento social, incluindo lockdown efetivo, além da disponibilização de auxílios financeiros. Do outro lado, a população também precisa fazer sua parte e acatar as recomendações científicas.