Em meio à crise do coronavírus, muitas (os) profissionais de saúde têm sido homenageadas (os) e celebradas (os) por conta do importante trabalho de salvar e socorrer vidas em hospitais por todo o mundo. Mas além do trabalho de médicas (os) e enfermeiras (os), as (os) assistentes sociais também possuem um papel essencial não apenas na saúde como na superação de vulnerabilidades e dificuldades sociais de pacientes e de seus familiares. A rotina e diversos procedimentos mudaram, mas o que não mudou foi o trabalho árduo buscando atender a população da melhor forma possível. Confira abaixo os relatos de algumas (alguns) assistentes sociais. Caso você tenha algum relato e queira contar a sua história pode enviá-la para o email: [email protected].
Marlene Lachovicz Karaczok – Hospital Vitória CIC
Marlene afirma que as (os) assistentes sociais possuem um papel diário muito importante na luta contra o coronavírus, especialmente em relação ao atendimento do paciente e familiares, à execução de planos, programas e projetos que garantam os direitos sociais. Cabe a essas profissionais a realização de videochamadas, mediação com a equipe médica e visitas dos familiares ao paciente com segurança e dentro dos critérios estabelecidos pelo hospital. Atualmente ela é coordenadora da equipe multidisciplinar do hospital.
“A rotina de fato é desgastante e sobrecarregada principalmente com a quantidade de óbitos ocorridos, assim como a carga emocional de lidar com a pandemia dentro de um hospital. Mas isso não impede que pensemos em novas estratégias que humanizem o ambiente hospitalar. Temos que nos aperfeiçoar constantemente em relação aos protocolos, atualizar nossos conhecimentos e pensar no surgimento de estratégias que humanizem o ambiente hospitalar junto às equipes multidisciplinares e seus usuários”, afirma ela.
Marlene explica que o acompanhamento do paciente acontece desde o início do internamento e dura até a sua alta. Muitos deles também fazem registros para agradecer e mostrar que estão melhores. Ela ressalta que a equipe do hospital, que conta com cinco assistentes sociais, possui um papel essencial de diminuir o impacto da vulnerabilidade social e de desenvolvimento da humanização no ambiente hospitalar. Entre os pacientes atendidos estavam aqueles vindos do Amazonas e de Rondônia, transferidos para o Paraná por conta da falta de leitos nesses estados.
A profissional ressalta, porém, que o medo e a insegurança também têm feito parte do cotidiano ao longo da pandemia. “No início sentia medo de contrair a doença e compartilhar com a família. Com o tempo tudo vai virando rotina e não contraí a doença. Também sentimos muito pelas perdas. Sofremos junto com as famílias que perderam entes queridos e sentimos o quanto é importante estarmos por perto. São muito importantes as ações que realizamos no hospital para amenizar a distância e levar um pouco de tranquilidade”, destaca.
Terésio Gabriel Bertoja de Freitas – Hospital Victor Ferreira do Amaral
Terezio faz parte da equipe multidisciplinar, composta por três assistentes sociais e uma psicóloga, no Hospital de campanha Victor Ferreira do Amaral. O profissional afirma que as (os) assistentes sociais, por fazerem parte da linha de frente se colocam sob risco, mas que estão paramentados e capacitados para tomar todos os cuidados necessários. Ele ressalta a importância do Serviço Social para esse momento. “Os assistentes sociais são os profissionais que estão diretamente preocupados com o bem-estar do paciente dentro e fora da unidade hospitalar. Para isso verificamos diariamente as condições de tratamento a que estes são submetidos, para que possamos atendê-los da forma mais humanizada possível, primando pela legislação em vigor e pela universalidade do SUS. Precisamos trabalhar com as angústias dos pacientes e suas relações familiares e realizar esse acolhimento integral dos pacientes para que possam se sentir mais dispostos e possam responder ao tratamento com mais ânimo”, ressalta.
Ele continua a explicação ressaltando que essas (esses) profissionais possuem competências técnicas para realizar estudos aprofundados sobre o paciente e o ambiente em que convive, além das relações que estabelece. “A intenção é que o paciente possa sempre retornar para seu convívio da forma mais saudável possível. Dentro disso, o profissional avalia o risco, atende e encaminha o paciente, se necessário, para a rede de serviços assistenciais disponível. Se não houver, detecta-se a violação de direitos e o Ministério Público deve ser acionado”, diz ele, enaltecendo que é gratificante poder participar desses momentos em que a sociedade está mais carente e necessitada. Segundo ele, a vacina e as pesquisas científicas são um incentivo para que essas (esses) profissionais continuem lutando diariamente.
Juliana Todescato – Hospital do Idoso
Juliana explicou que a pandemia mudou alguns dos princípios básicos do Serviço Social no Hospital do Idoso. Se antes o objetivo era que a família estivesse por perto no atendimento e em visitas recorrentes ao paciente, com a pandemia isso teve que ser mudado. As visitas tiveram que se tornar mais restritas e rápidas e família ficou fisicamente distante. “No início foi bem impactante para a equipe e para os familiares. Foi algo bem difícil e tivemos que mudar alguns dos nossos processos, como a realização de videoconferências e de visitas uma vez por semana”, explica. Outra situação foi a adaptação da alta social, em que o paciente, mesmo após a alta médica, segue acompanhado pela equipe para resolver as pendências ligadas a questões sociais. Com a pandemia, o paciente não fica mais no próprio hospital e é transferido para um hospital de referência parceiro.
Juliana explica que o medo de contrair a doença e as emoções envolvidas também fizeram parte da rotina das (dos) profissionais. A assistente social destaca que os pacientes chegam ao hospital com diversas preocupações em relação a seus familiares, à saúde e a questões pessoais. Ela explica que a pandemia tem representado um momento de crescimento pessoal e profissional além de diversos momentos de reflexão. “Esse contato mesmo à distância e as ações que tivemos que adaptar foram muito importantes desde o início. Também pudemos pensar mais sobre toda a questão envolvendo sentimentos e o fortalecimento de vínculos que são importantes para serem resgatados nesse momento”, frisa.
Dentro desse processo ela também lembra de situações de escolhas difíceis por parte das (dos) profissionais. “Já ouve situações em que o paciente tinha sete, nove filhos, estava em um processo terminal e tivemos que escolher por uma única pessoa para realizar essa última visita. E não tem como não se envolver nesse momento, as emoções tomam conta e por diversos momentos tivemos que parar para absorver e refletir sobre todas essas situações”, relata. Entre alguns desses momentos emocionantes estava o da coordenadora Valeria Azevedo que conviveu com a sua avó internada no hospital.