Com a palavra, Assistente Social na Pandemia: “Algumas vezes, temos desempenhado funções que não são de assistente social”

A assistente social Aline Ferreira Braz atua na Política de Assistência Social, no serviço de acolhimento institucional para mulheres que estão em situação de violência doméstica e de risco de morte.  O dia a dia de atuação em tempos de pandemia exige, segundo ela, muito diálogo com as mulheres para que não abandonem o acolhimento, horas a mais de trabalho, desempenho de funções que não fazem parte do escopo de atividades de assistente social. Aline atua em Foz do Iguaçu, NUCRESS Foz do Iguaçu e conta sobre sua rotina em tempos de COVID19.

Como tem sido sua rotina com a Pandemia?

No início da pandemia iniciamos um sistema de rodízio, entre a equipe técnica (assistente social e psicóloga), trabalhamos 2 dias de teletrabalho e 2 dias presencial de forma alternada. Atualmente estou fazendo o trabalho presencial, estou trabalhando 6 horas, das 8:00 às 13:00, para não aumentar o fluxo de pessoas dentro da Casa Abrigo. Às 13:00 a psicóloga chega e eu me retiro, para não ficar muitas pessoas no mesmo ambiente, considerando que o local é pequeno não sendo possível manter uma distância segura.

O que mudou foi o uso intensivo do whatsapp fora do horário de trabalho. Os profissionais utilizam tanto seu próprio equipamento quanto o da rede de atendimento. Também houve redução no número de profissionais, pois alguns foram afastados por fazerem parte do grupo de risco. Com isso, algumas vezes, desempenhamos atividades que não são atribuições da/do assistente social.  Quando necessário fazemos os estudos de casos externos de forma online. O envio dos relatórios está sendo feito por e-mail.

Quais as principais dificuldades que o contexto de pandemia tem imposto ao seu trabalho e ao atendimento às usuárias?

No início quando estava no teletrabalho notei que mesmo indo dia sim e dia não, era muito difícil estabelecer o vínculo com as acolhidas. Outro problema era que algumas intervenções, em situações que ocorriam, eram feitas por pessoas sem a competência técnica necessária, que quando repassavam a demanda para mim, sempre tinha conotações de valores e princípios particulares.

No trabalho presencial, como muitos serviços estão atendendo somente emergência ou as prioridades nesse momento são outros públicos, reduziu ainda mais a possibilidade de resolução das demandas das mulheres de forma rápida. É o caso dos serviços de Saúde, que estão atendendo somente caso de urgência.

Isso gera situações de estresse, aumentando os conflitos entre as acolhidas, embora a gente converse com elas o tempo todo, explicando a mudança de fluxo, e elas acham que não queremos resolver a situação.

Há o risco constante do autodesacolhimento sem planejamento, retornando para o ciclo de violência. Para elas fica muito mais difícil permanecerem em acolhimento institucional quando é demorada a resolução de suas demandas. Então temos que criar estratégias para reduzir todos esses impactos, para que elas não retornem para a situação de violência doméstica.

Você está desempenhando função que não compete à sua área?

Em alguns momentos tivemos o afastamento de educadores sociais por fazerem parte do grupo de risco ou por suspeita de COVID19. Nestas ocasiões, desempenhei suas funções no acolhimento, como: dirigir carro, buscar e levar acolhidas para a execução de alguns encaminhamentos, alimentar relatório diário de atividades da instituição, buscar alimentos no Banco de Alimentos Municipal.

Aumentou sua jornada de trabalho?

Sim, em 8 horas a mais.