Começamos hoje a série “Com a palavra, Assistente Social na Pandemia.”

Quais os impactos da pandemia de COVID-19 na atuação de assistentes sociais? O CRESS-PR está escutando profissionais que atuam em diferentes políticas públicas, em instituições de ensino e em municípios com realidades distintas, pertencentes aos 20 Nucress; e estudantes integrantes da ENESSO. A partir de hoje, a série “Com a palavra, Assistentes Sociais na Pandemia”, trará entrevistas onde contam um pouco de seus cotidianos, desafios, angústias e esperanças.

A primeira a falar é Carla Ferreira.

“Afetou bastante meu emocional. É difícil não levar trabalho casa. Sempre fui ansiosa, e agora estou ainda mais.”

Carla Andresa Ferreira é assistente social há 12 anos. No momento, atua na Prefeitura de Assis Chateaubriand na política pública de Habitação, com a inserção de famílias no cadastro de pretendentes para programas habitacionais e com planejamento, execução e acompanhamento de programas e projetos habitacionais. Ela manteve grande parte de suas atividades sendo desenvolvidas presencialmente, com algumas em teletrabalho. A pandemia de COVID-19 tem sido um desafio diário entre garantir o atendimento ao usuário, proteger a si e ao usuário da contaminação, manter a ansiedade sob controle.

Ela conta um pouco como tem sido esse cotidiano.

Como tem sido sua rotina com a Pandemia?

Indubitavelmente a rotina com a pandemia ficou muito diferente e a diferença evidente foi a utilização do atendimento remoto aos usuários que não podiam comparecer presencialmente aos serviços, mas tinham um turbilhão de incertezas, preocupações e vulnerabilidades agravadas pelas consequências do isolamento.

Está em teletrabalho?

Não totalmente, realizo trabalho presencial, mas tenho utilizado mecanismos remotos quando possível.

A preocupação com a contaminação deve ser grande, trabalhando presencialmente.

Sim.  A cada atendimento que faço a preocupação de ser contaminada e/ ou contaminar alguém aumenta um pouco. Por isso, fico atenta e utilizo a máscara, passo álcool gel nas mãos e mantenho o distanciamento, evito contato físico.

Está trabalhando em condições adequadas?

Considero que tenho condições condizentes com as normas de prevenção, mas em detrimento ao atendimento com os usuários não pude me ausentar nesta pandemia. Houve revezamento nas escalas de trabalho o que reduziu a presença de muitas pessoas. Cumprimos com rigor o processo de higiene e temos disponível álcool gel em cada mesa, nas as portas de entrada; existe um controle de entrada de pessoas no prédio para evitar aglomeração; é obrigatório o uso de máscara; orientação para manter o ambiente arejado; é feita higienização periódica nos espaços; e diante da suspeita de contaminação temos protocolos da vigilância epidemiológica a seguir.

Quais as principais dificuldades que o teletrabalho impõe para as suas atividades profissionais?

Das atividades que realizei remotamente a dificuldade que tive foi a falta de acesso da maioriados usuários às tecnologias e até conhecimento e habilidade de utilização de recursos tecnológicos para acessar benefícios. Portanto, as visitas domiciliares permaneceram como um importante instrumento de trabalho, que por muitas vezes foi a única maneira de possibilitar a informação e acesso a benefícios aos usuários da política. Outra dificuldade foi restringir os atendimentos apenas para o horário do expediente.

O trabalho se estende muito além do horário de expediente?

Houve momentos, durante a pandemia, que não foi possível restringir os atendimentos apenas ao horário do expediente, o que pode ter aumentado em no máximo 20% as horas trabalhadas, mas isso nos primeiros meses em que a demanda foi mais intensa.

Tem alguma atividade que não faz parte do escopo de atividades de assistente social, que você passou a desempenhar em função da Pandemia?

Não considero que tenha exercido atividades que não façam parte das atividades da minha profissão.  Mas desempenhei atividades diferentes das que competem a política que atuo no momento, em colaboração com outras secretarias que tiveram demandas acima da sua capacidade de atendimento, em função de possibilitar aos usuários acesso aos benefícios sociais que surgiram na pandemia.

Quais dificuldades você tem encontrado para atender os usuários?

Ultimamente acompanho um Programa Habitacional envolvendo 200 famílias, que não tem realizado nenhuma atividade coletiva. Todas as ações coletivas previstas para este período, após a entrega das unidades ocorrida no início da pandemia, ficaram prejudicadas, o que dificultou a orientação dos beneficiários com a adaptação ao novo espaço, comprometendo a formação dos vínculos comunitários entre os moradores do novo bairro instituído pelo programa. Então, criamos um grupo na rede social para manter contato e compartilhar informações com todos.

Demandas relativas ao processo de mudança destas famílias inseridas no programa habitacional se intensificaram, devido à dificuldade dos usuários em acessar outros canais de atendimento via telefone e online, que também passavam por adaptações, houve problemas para alcançar todas as solicitações.

Ademais o agravamento da vulnerabilidade das famílias decorrente do precário acesso à renda; da redução de oferta de trabalho haja vista que a maioria estava inserida no mercado de trabalho informal; o aumento no consumo de alimentos com a permanência das crianças em casa devido à suspensão das aulas; a dificuldade das mulheres que não puderam trabalhar por não ter com quem deixar seus filhos, dentre outras situações levaram a intensa demanda de usuários por orientação de todos os tipos. Demandas de como acessar benefícios ofertados por outras políticas como a Assistência Social, de como acessar os novos benefícios que surgiram neste período e de outros benefícios já existentes. Portanto surgiram demandas de outras políticas públicas principalmente relativas aos serviços de saúde, assistência e previdência social, além de benefícios eventuais dos governos Estadual e Federal que surgiram na pandemia.

Como toda essa situação tem te afetado?

É difícil não levar trabalho para casa. Afetou muito meu emocional. Eu já me considerava uma pessoa ansiosa, depois disso tudo estou ainda mais. O que me ajudava a reduzir a ansiedade era atividade física, mas por um bom tempo a academia teve que fechar, me perdi da rotina dos exercícios e fiquei parada. Isso me levou a compulsão alimentar. Tenho tentado retomar a atividade física e estou tentando voltar à rotina.