Roda de Conversa abre espaço de fala e escuta para profissionais de 15 municípios do Vale do Ivaí

Categoria que está na linha de frente do atendimento à população na pandemia de Covid-19, assim como as/os profissionais da saúde, as/os assistentes sociais vivem no limiar entre proteção social/distanciamento social e defender a atuação profissional em condições éticas e técnicas, conforme preconiza a resolução CFESS 493/2006.

Em meio a isso, ainda tentam se proteger da contaminação, muitas vezes sem sucesso. Muitas/os assistentes sociais já perderam a vida nessa batalha. Em uma realidade totalmente nova, estas/es profissionais vão tecendo no dia a dia alternativas de atuação e estreitando o compartilhamento de angústias e esperanças, em espaços de fala e escuta, por meio de ações implementadas pelo CRESS-PR, como o mapeamento que está sendo realizado sobre as dificuldades enfrentadas pela categoria e as rodas de conversa com o tema “Os impactos da pandemia de Covid-19 na atuação das/os assistentes sociais.”

A primeira Roda de Conversa foi realizada pelo Nucress de Apucarana, que abrange 15 municípios do Vale do Ivaí, em parceria com a seccional de Londrina, no dia 20 de agosto. Antes da fala das/os mais de 50 participantes, a coordenadora da seccional de Londrina, Liana de Bassi, apresentou os resultados parciais do mapeamento em curso, que traz as respostas da categoria a uma série de perguntas sobre Covid-19 e atuação profissional. Lançada no final de julho, no  Encontro Estadual do CRESS-PR, esta pesquisa termina em 31 de agosto.

Os resultados parciais mostram as condições adversas que as/os assistentes sociais estão enfrentando.  Entre elas, destacam-se: a maioria, 84%, está trabalhando presencialmente; 62,2% teve o volume de trabalho aumentado; 67,9% disseram haver incompatibilidade entre as atribuições da profissão e as atividades que estão desempenhando. A total ausência de orientação para atuar no contexto de pandemia também está denunciada em 75,5% das respostas. A não disponibilização de EPIs também é preocupante: 31,9% das/os profissionais disseram que na instituição onde atuam, ou ninguém recebeu (13,5%) ou apenas alguns receberam (18,4%). 

Estes resultados correspondem às informações fornecidas por 163 profissionais que responderam o questionário até 14 de agosto. No entanto, traduzem parte da realidade relatada pelos participantes da Roda de Conversa, logo depois da apresentação da coordenadora da seccional de Londrina.

COM A PALAVRA, AS/OS ASSISTENTES SOCIAIS

Ana Paula Santos, de Apucarana

“Muito bom ter esse momento para conversar sobre essa situação que pegou todo mundo de surpresa. Dentro do CAPS-AD posso dizer que nossa realidade foi um pouco diferente da realidade da Política de Assistência Social, que teve um aumento no volume de atendimento muito grande. No CAPS-AD atuamos muito em grupos e tivemos que suspendê-los para evitar aglomerações. Então, por um lado a demanda diminuiu, mas por outro aumentaram os atendimentos individuais. A orientação é para a pessoa ficar em casa para evitar a contaminação, mas aí sozinha em casa, ela faz uso de álcool e drogas com mais intensidade. Quer dizer, ela precisava estar no grupo, mas não pode ter grupo. Como agir? E moradores de rua com suspeita de Covid-19, como fazer? A maior dificuldade é conseguirmos garantir o atendimento, não ferir a proteção social ao usuário e ao mesmo tempo garantir que ele não se contamine e que a gente se proteja também. Ninguém estava preparado, é um aprendizado diário.”

Patrícia Santos, de Foz do Iguaçu

“Existe um sofrimento ético das/os profissionais, e físico também, as equipes estão doentes. As demandas aumentaram muito na assistência social. Estamos atendendo a mil por hora para dar conta dos novos usuários da política.”

“No CRAS o foco é o atendimento de benefícios eventuais, mas temos que atender outras demandas que estão ficando reprimidas, reabrir a agenda de atendimento do usuário, mas como fazer isso em um espaço físico que não comporta esse atendimento sem aglomerações? Temos que nos reinventar, mas fico frustrada em não fazer o atendimento pessoal tão necessário.”

“Eu sinto que há uma valorização da/o profissional de assistência social na pandemia só quando convém ao poder público, porque na realidade estamos sempre em segundo plano, tudo demora para chegar para a política de assistência social.”

Naara Guirro de Oliveira, de Novo Itacolomi

“A parte previdenciária tem sido um desespero. É absurda a demanda e isso gera muita ansiedade em nós para darmos resposta à população. O INSS está sendo um terror, não é possível inserir a demanda de forma remota, pois o aplicativo “Meu INSS” tem um limite de espaço para inserção de documentos que comprovam o direito ao benefício requerido. Isso inviabiliza totalmente o acesso das pessoas a direitos como aposentadoria e outros.”

“Nossas ética e prática profissionais são colocadas em cheque em muitas situações, em que nos vemos em uma linha tênue entre garantir os direitos dos usuários do SUAS e ferir os nossos enquanto profissionais.”

Paulo Augusto da Fonseca, de Apucarana

“A gente já vem de um contexto devastador, precariedade no trabalho, falta de investimentos. Então, como será no pós-pandemia? Até o momento não vemos posicionamento do governo federal sobre aumentar investimentos em políticas sociais, saúde, educação. Pelo contrário, agora focou no auxílio emergencial mas isso não sustenta.”

 Mayara Secco, de Borrazópolis

“Aumentou bastante a demanda por atendimento na área de saúde mental de pessoas com ideações e tentativas de suicídio. As solicitações de auxílio-doença também aumentaram muito.”

Vânia Alves – Assistente Social em Califórnia

“Além dos novos usuários que estão surgindo, do próprio município, estamos vivendo uma realidade de imensa migração de pessoas e famílias de outras cidades e estados em virtude da facilidade de acesso a benefícios eventuais. Isso tem causado uma grande preocupação, pois como somos um município de pequeno porte, não teremos condições a longo prazo de manter o atendimento a essa demanda.”