A luta pelo fim da discriminação racial ocorre todo dia. Além do Dia Nacional da Consciência Negra, registrado no calendário nacional em 20 de novembro, neste 03 de julho, reafirmamos o Dia Nacional de Combate à Discriminação Racial.
Para reforçar essa luta cotidiana, num cenário acentuado de retrocessos e com o agravante da pandemia de COVID-19, reunimos uma conversa com quatro Assistentes Sociais da base, que reafirmam essa luta. São elas:




A luta contra a discriminação nos locais de trabalho:
As profissionais ressaltam a importância da representatividade e da vigilância. “É importante colocar as pessoas negras nos espaços de representação. Quando vou a congressos, sempre faço teste de cabeça e vejo que, às vezes, sou a única pessoa negra”, relata Alexsandra. Para Gilza, a luta é por reconhecimento. “O debate no âmbito do trabalho envolve todo lugar em que você está. Você tem que defender os seus. A profissão enaltece e reafirma que temos que lutar para que nos reconheçam, nos respeitem enquanto indígenas, para que vejam que não somos todos iguais”.
Juliana destaca que “debate interseccional (raça, gênero e classe) é constante. Temos que fazer ações e leituras coletivas de que o ambiente de trabalho não pode ter atitudes racistas”. Na opinião de Tatiana, na luta contra o racismo a/o Assistente Social “tem que ser crítico e interventivo, no envolvimento e na luta, que é tão necessária e urgente”.
Assistentes sociais contra o racismo na sociedade:
As Assistentes Sociais registram a importância do enfrentamento ao racismo e garantia de direitos à população usuária do Serviço Social. Gilza defende a presença de profissionais indígenas nos territórios, apesar das dificuldades do mercado de trabalho. “Eu sou da Terra de São Gerônimo, e penso que como profissional poderia contribuir muito para a minha comunidade”.
Tatiana defende a conscientização para a categoria não reproduzir práticas racistas: “Pessoas usuárias vêm de uma situação de injustiça social. Se faz necessário combater o racismo no acolhimento, na escuta, e traçar estratégias”. Alexsandra ressalta o acolhimento: “precisamos abrir esses espaços de atenção para a população negra, de reconhecimento de seu valor”. Juliana mostra a importância da reflexão com a população usuária, negra e não negra, do enfrentamento ao racismo: “Busco fazer reflexão do racismo estrutural em que vivemos e do combate a possíveis condutas racistas”.

Enfrentamento ao racismo estrutural:
De acordo com as profissionais, o momento é delicado por causa do avanço do conservadorismo, mas a luta deve ser reforçada. Alexsandra ressalta o enfrentamento e conscientização constantes e explica que “as definições dos lugares sociais, do lugar da pessoa negra vem desde a época colonial”.
Gilza registra ainda a necessidade de trazer Assistentes Sociais indígenas para o debate. “É fundamental expor nossos anseios e angústias, saber que temos direitos”. Para Tatiana, o racismo estrutural fica escancarado com a pandemia de COVID-19 e se faz necessária a defesa do SUS, do SUAS e da educação pública de qualidade. Ela relembra casos de violência contra negras/os. “Temos perdido negros e negras todos os dias e sempre que morre um, cada um de nós morre um pouco também”.
Segundo Almeida (2018, p. 25), o racismo “é uma forma sistemática de discriminação que tem a raça como fundamento, e que se manifesta por meio de práticas conscientes ou inconscientes que culminam em desvantagens ou privilégios, a depender ao grupo racial ao qual pertençam”. Caminhando lado a lado com o racismo, segundo o autor, discriminação é dar tratamento diferenciado em razão da raça.

Posicionamento do CRESS/PR no combate à discriminação Racial
O Conjunto CFESS/CRESS, nos últimos anos, tem atuado incessantemente no combate ao racismo e contra todas as formas de discriminação.
No ano de 2018, o Conselho Regional de Serviço Social 11ª Região/PR, por meio de membros de sua delegação no 47º Encontro Nacional do Conjunto CFESS/CRESS, participou na construção da Carta de Porto Alegre, resultando também a deliberação do tema alusivo ao Dia do/a Assistente Social de 2019: “Se cortam direitos, quem é preta e pobre sente primeiro. A gente enfrenta o racismo no cotidiano!”. Além disso, em 2019, por meio da campanha “Assistentes Sociais no combate ao Racismo” foram realizadas diversas ações em todo estado.
No ano de 2020, o cenário que se apresenta não é nada agradável, tendo em vista o avanço da onda ultraconservadora e seu projeto de necropolítica, aliada à conjuntura avassaladora em todos os campos, principalmente, da cultura, da política, social e da saúde. A população que mais sente estes ataques é principalmente a população pobre negra, indígenas, LGBTI+ e mulheres negras.

Em sua forma mais evidente, o racismo é apontado em pesquisas que mostram os índices de homicídios (de homens e mulheres) e feminicídios (homicídios com agravante de violência contra a mulher). Segundo o Atlas da Violência do IPEA, entre 2007 e 2017 houve aumento de 111% nos homicídios de homens negros. No Paraná o aumento foi de 95,4%. Quanto às mortes de mulheres (que inclui tanto homicídios de mulheres quanto feminicídios) houve aumento de 99,5% no país. No Paraná o aumento foi de 50. No recorte específico sobre feminicídios, em 2019 houve aumento de 7,3% no Brasil em relação a 2018, segundo dados do Monitor da Violência. No Paraná o aumento foi de 28,9%.
Sobre a violência contra povos indígenas, segundo o Relatório Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil, de 2018, mostra que naquele ano foram 135 homicídios; 101 suicídios; 142 casos de violência por omissão do poder público; 941 registros de violência contra o patrimônio; e 110 casos de violência contra a pessoa.
Assistentes Sociais, na defesa do Projeto Ético Político, têm o dever de lutar cotidianamente contra o racismo e contra todo tipo de discriminação. A defesa intransigente dos Direitos Humanos e sociais está diretamente vinculada ao combate ao racismo. Logo, requer pensar formas e mobilização de estratégias no combate à discriminação racial de forma efetiva.
O CRESS-PR está presente e convida a categoria a engajar-se no dia a dia na luta antirracista e no combate à toda e qualquer forma de discriminação racial.