Importantes palestras e discursos marcam o primeiro dia do 7º CPAS

Palestras, discursos, apresentações culturais e muitos aplausos da plateia. Assim foi o primeiro dia do 7º Congresso Paranaense de Assistentes Sociais (7º CPAS). A abertura do evento aconteceu na noite desta quinta-feira (26), no Teatro Marista de Ponta Grossa e reuniu centenas de pessoas na plateia, entre Assistentes Sociais, estudantes de Graduação em Serviço Social e outras e outros profissionais. O evento também contou com a participação de integrantes de movimentos sociais e entidades de classe.

O CPAS é realizado pelo Conselho Regional de Serviço Social do Paraná (CRESS-PR) e conta com o apoio da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEOG), Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS) e da Executiva Nacional de Estudantes de Serviço Social (ENESSO).

A abertura contou com apresentação da cantora Maria Izabel Correia, que também é coordenadora estadual da União Brasileira de Mulheres, vice-presidenta do Conselho Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional presidenta do Conselho Estadual de Direitos da Mulher. Na apresentação, a cantora levantou a plateia com músicas latinas. “É um prazer estar aqui com vocês. Tenho muitas companheiras do Serviço Social”, afirmou.

Valorização e engajamento da categoria

Em seu discurso inicial, a presidenta do CRESS-PR, Joziane Cirilo, destacou a importância de o evento ser realizado em Ponta Grossa, em parceria com uma universidade pública, por serem questões de relevância para a classe. “Isso faz parte da agenda do CRESS-PR, de valorização da profissão e do engajamento da categoria, além da descentralização e valorização profissional, bem como dos direitos da categoria. É importante que este seja um espaço de produção de conhecimento, troca de experiências, mas especialmente para reafirmar a luta na defesa dos direitos humanos”, destacou.

 

Movimento Negro

Compuseram a mesa junto com a presidenta do CRESS-PR outras autoridades. Entre elas Carlos Alberto rodrigues de Souza, integrante do Instituto Sorriso Negro dos Campos Gerais. Ele destacou que, apesar dos tempos sombrios pelos quais passa o movimento social no Brasil, especialmente no ano de 2019, o momento tem seu lado positivo. “Nunca vi nossa ONG tão cheia de pessoas que entendem que não podemos lutar sozinhos, em busca de nossos direitos”.

Souza também apontou a importância das e dos Assistentes Sociais. “O Instituto Sorriso Negro dos Campos Gerais estará sim apoiando a luta do assistente social, pois é justamente ele que está lá entendendo nossos direitos, entendendo que a sociedade brasileira é sim racista, mas que podemos mudar isso, com a sensibilidade do assistente social”.

 

Questão trabalhista

A presidenta do Sindicato dos Assistentes Sociais do Paraná (Sindasp) relembrou questões centrais na atual luta de trabalhadores e do desmonte da organização sindical. A perda de direitos, conforme destacou, possibilitou um desmonte na rede de proteção ao trabalho, o que também atinge a classe de Assistentes Sociais. Na luta contra esse desmonte, segundo a presidenta do Sindasp, é necessário “pegar esses momentos de crise e fazer avaliações até mesmo de união e de organização”, referindo-se à classe.

 

Movimento estudantil

Representante da Enesso, a estudante Layliene Kauane relembrou a importância do movimento estudantil do Serviço Social na construção de uma sociedade anticapitalista. Ela também lembrou a necessidade de compreensão da transversalidade do movimento estudantil na formação profissional e da luta em defesa da universidade pública. “Precisamos lutar por uma universidade pública, gratuita, de qualidade e laica. Passamos por tempos difíceis, sombrios, mas que são também tempos de luta e resistência. São tempos de agir”.

Pesquisa e conhecimento no Serviço Social

A presidenta da Abepss, Esther Lemos, disse que o profissional da categoria possui um compromisso ético e político em frente aos ataques aos direitos humanos e à universidade pública. Esther pontuou a importância do 7º CPAS como oportunidade de investimento e aprimoramento intelectual. “Como assistentes sociais, trabalhadores e trabalhadoras, sofremos os ataques dos poucos direitos conquistados. Precisamos nos unir na defesa da educação e da universidade. É mais que necessário: é condição para o enfrentamento da barbárie e do obscurantismo”.

 

Luta com união da classe

Mostrando questões com as quais as/os Assistentes Sociais se deparam em meio aos retrocessos vividos no Brasil (como exploração de trabalhadoras e trabalhadores, mortes de indígenas, negros e crianças em comunidades), a conselheira federal do Conselho Federal de Serviço Social (CFESS), Daniela Moller, disse que é necessário olhar para esse momento e saber que a palavra é solidariedade de classe. “Precisamos entender que somos parte dessa classe [de Assistentes Sociais]. É com nossos pares que poderemos lutar nesse momento. Nosso inimigo representa a exploração e a opressão”.

 

Universidade

Participaram da mesa também a chefe do Departamento de Serviço Social da UEPG, professora Sandra Maria Scheffer, e o reitor da UEPG, Miguel Sanches. Sandra afirmou que é um orgulho para a universidade e para a cidade sediarem esse evento, planejado com meses de trabalho. “Temos um compromisso social e político, de defesa da liberdade, direitos e lutas emancipatórias. O curso de serviço social da UEPG vos acolhe e deseja um proveitoso evento”.

Sanches destacou que, nos 50 anos que a universidade completa neste ano de 2019, o curso de Graduação em Serviço Social se confunde com a história da instituição – o curso possui 46 anos. O reitor também mostrou a importância de todas e todos não recuarem na luta pela garantia de direitos. “Nunca se acomodar, nunca se recolher e fazer com que todas as crenças que nos moveram continuem nos movendo, para retomar o curso democrático de nossa sociedade e de nosso país”.

Palestra Magna

A primeira palestra do 7º CPAS teve como tema “O Trabalho da/do assistente social em tempo de retrocessos: defesa de direitos e lutas emancipatórias”. A palestra contou com a participação da professora Lucia Cortes, da UEPG, no Programa (mestrado e doutorado) em Ciências Sociais Aplicadas e na graduação de Serviço Social, e de Marcio Pochmann, economista e professor titular da Universidade Estadual de Campinas/SP (Unicamp). A mesa ainda teve coordenação de Elias Oliveira (CRESS-PR) e Keila Cristina Carneiro (NUCRESS-PG).

Pochmann lembrou que, na história do Brasil, em alguns momentos, a sociedade passou por lutas em momentos que mudaram os rumos do país. Ele citou que, em 1880, os abolicionistas lutavam pela inclusão dos negros na sociedade, enquanto a elite afirmava que a solução para enfrentar o atraso seria alijar negros, pardos, mamelucos e indígenas. Outro momento citado foi a década de 1930, quando o país deixou de ser uma sociedade agrária e primitiva, em que as mulheres pouco participavam da vida social. Para o professor, o momento de lutas que o país passa nesta década de 2010 a 2020, é semelhante aos anteriores. Guardadas as proporções, estamos vivendo algo parecido. Mas a sociedade está diferente. Precisamos aproveitar esse momento”, afirmou.

Lucia Cortes apontou a importância da categoria em se afirmar como área que produz conhecimento. Para a professora, não é qualquer categoria que tem força e convicção de fazer a crítica social da sociabilidade capitalista e enfrentar o discurso conservador que interpretou os problemas sociais como resultado da miscigenação. Para ela, o trabalho do assistente social se defronta com os desafios de 40 anos atrás: enfrentar conservadorismo, o autoritarismo e recriar sua prática profissional, para compreender essa sociedade que está em profundas transformações. “Nós temos uma categoria profissional inserida nos espaço institucionais de intervenção produzindo conhecimento sobre uma realidade social muito desigual, que ousa compreender os mecanismos da financeirização da riqueza”.