“Se cortam direitos, quem é preta e pobre sente primeiro.
A gente enfrenta o racismo no cotidiano!
Assistentes Sociais em combate ao Racismo”.
Como parte das atividades alusivas ao Dia da/o Assistente Social, a ser comemorado em 15 de maio, o Conselho Regional de Serviço Social (CRESS-PR) realizou na noite desta quinta-feira (09), a mesa “Se cortam direitos, quem é preta e pobre sente primeiro. A gente enfrenta o racismo no cotidiano! Assistentes Sociais em combate ao Racismo”. Cerca de 100 pessoas, entre elas, assistentes sociais, estudantes de Serviço Social e outros profissionais,participaram de um amplo debate com reflexão sobre os desafios centrais para o exercício profissionais no cotidiano.
O evento contou com a presença da presidenta do Conselho Federal de Serviço Social (CFESS), Josiane Soares; da presidenta do CRESS-PR, Joziane Cirilo; da vice-presidenta do CRESS-PR, e coordenadora da Câmara Temática de Ética e Direitos Humanos, Elza Campos; e a assistente social da Cáritas Regional Paraná e representante da Câmara Temática de Ética e Direitos Humanos, Juliana Mara da Silva.
Joseane focou a sua fala em dois aspectos principais: uma reflexão sobre os fundamentos do racismo e ao mesmo tempo, indicar os motivos pelos quais nunca se falou tanto de racismo como no momento contemporâneo. Em sua avaliação, a causa determinante é a intensificação de episódios de racismo na atual conjuntura, principalmente em relação às mulheres pretas e pobres, o que merece receber a sororidade das/os assistentes sociais. Ela sugeriu também, que haja uma reflexão sobre a possível relação entre os baixos salários pagos à categoria nos postos de trabalho, e o fato de a profissão ser essencialmente feminina e formada por mulheres negras. “Desde os anos de 1960, portanto, no século passado, a profissão tem sido muito procurada por jovens da classe trabalhadora formada na maioria por mulheres negras”, afirmou Josiane Soares, presidente do CFESS.
Para a presidenta do CFESS, o racismo já é, hoje, declaradamente, uma política de Estado. “Infelizmente, temos que reconhecer isso. As pessoas estão perdendo a vergonha de assumir que são racistas”, analisa. Estimular porte de arma, e aceitar as afirmações feitas pelo governo federal, é estimular o racismo, opina Josiane Soares. “No campo ou na cidade, é a população negra que vai ser morta. É política de extermínio”. Nesse cenário, diz Josiane, recai sobre as/os assistentes sociais, uma responsabilidade muito grande, e provoca uma piora na demanda profissional com a consequente sobrecarga de trabalho.
A assistente Juliana Mara da Silva, da Cáritas Regional que, em parceria com a Organização Internacional para as Migrações (OIM), é a responsável pela acolhida e acompanhamento de grupos de migrantes, apontou que, quando se fala nessa crise imigratória, é preciso destacar que existem grupos de congoleses, senegaleses, haitianos “sendo explorados na nossa cara, assim como mulheres negras, migrantes brasileiras sendo exploradas sexualmente. Então, é uma realidade que também precisamos debater dentro dessa temática do racismo”.
Elza Campos, vice-presidenta do CRESS-PR e coordenadora da Câmara Temática de Ética e Direitos Humanos, em sua fala, evidenciou a importância da campanha do conjunto “Se cortam direitos, quem é preta e pobre sente primeiro. A gente enfrenta o racismo no cotidiano!”, destacando a completa adesão do CRESS-PR, indicando que esta deve ser assumida pela categoria no Estado, tanto por seu compromisso com o projeto ético- político profissional, “lembrando que muitas/os de nossas/os usuárias/os são mulheres e mulheres negras e pobres. Por isso, a intervenção do Serviço Social exige um olhar voltado às questões de classe, de raça e gênero, e uma práxis que realiza mediações no cotidiano para a análise e intervenção profissional no enfrentamento da questão social”.
Destacou a orientação da professora, militante e filósofa Ângela Davis que ressalta que,uma análise e uma ação concreta na realidade nos impõem avaliarmos as condições de negros e negras por um viés interseccional, isto é, que se debruça sobre como o racismo, o capitalismo e o sexismo são condições estruturantes nas relações humanas, responsáveis por gerar formas combinadas de opressão e desigualdade. Para compreender como o racismo atravessa a história e está presente nos dias de hoje, trouxe vários elementos e experiências da Câmara Temática de Ética e Direitos Humanos do CRESS-PR, “enfatizando a centralidade desta Câmara Temática tanto na defesa dos DH de nossa categoria profissional, de seu exercício profissional como dos direitos da classe trabalhadora e das/os usuárias/os das políticas públicas, particularmente nesta conjuntura de frontal ataque aos direitos conquistados”, afirmou a vice-presidente do CRESS-PR, Elza Campos.
Para Jucimeri Isolda Silveira, conselheira do CRESS-PR e professora da PUC-PR, a mesa provocou reflexões muito importantes de uma crítica aos efeitos da hegemonia eurocêntrica, do processo colonizador, não esgotado e que agora na atualidade traz elementos que aprofundam essa feição do Estado racista, que elege os seus inimigos para eliminar. “Portanto, nós, assistentes sociais, temos um papel muito importante na defesa dos direitos de explicitar e denunciar essas contradições, e de construir, sobretudo, na aliança com a população usuária, com os movimentos sociais, com as organizações de direitos humanos, com órgãos de defesa dos direitos, laços fortes para enfrentar esse processo de avanço do conservadorismo, do fascismo e que nos coloca ao mesmo tempo, o desafio da resistência, da reinvenção, da luta por diretos humanos, por uma nova sociedade”, afirma Jucimeri.
As demais atividades alusivas ao Dia da/o Assistente Social no Paraná darão continuidade aos debates em todo o estado, com ênfase na conjuntura de ataque aos direitos sociais, de congelamento dos recursos para as políticas sociais, de avanço do conservadorismo e do neoliberalismo, e por consequência, do racismo, da xenofobia, da LGBTIfobia, do feminicídio, do extermínio da população jovem, negra, periférica, e dos povos tradicionais e indígenas. Ao mesmo tempo, será o momento de fortalecimento do exercício profissional, de explicitação da agenda de defesa dos direitos e da profissão.
Participe da próxima atividade do CRESS-PR:
22/05/2019
Ato na Assembleia Legislativa do Paraná
“Direitos Humanos, Políticas Públicas e Serviço Social: Agenda de lutas e protagonismo das/os Assistentes Sociais” e “75 anos de Serviço Social no Paraná.
Abertura e Assinatura de Cooperação Institucional
Deputado Arilson Chiorato
Dr Olympio de Sá Sotto Maior: procurador do Ministério Público do Paraná e coordenador do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Proteção aos Direitos Humanos.
Joziane Cirilo: presidenta do CRESS-PR, assistente social do INSS.
Maria Izabel Sheidt Pires: coordenadora do curso de Serviço Social da PUC-PR.
Jaqueline Batista Franco Ferreira: representante da ENESSO na ABEPSS.
Mesa redonda
Jucimeri Isolda Silveira: professora do curso de Serviço Social e do Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos da PUC-PR, coordenadora da Área Estratégica de Direitos Humanos, e conselheira do CRESS-PR.
Márcia Helena Carvalho Lopes: ex-ministra de Desenvolvimento Social e Combate à Fome do Governo Lula, consultora do Sistema ONU, e articuladora da Frente Nacional em Defesa do SUAS e da Seguridade Social.
Elza Campos: vice-presidenta do CRESS-PR, coordenadora da Comissão Temática de Direitos Humanos, liderança da União Brasileira de Mulheres.
Debate com organizações, movimentos sociais, fóruns, frentes populares e deputadas/os.
Horário: 9h às 12h
Local: Plenarinho da Assembleia Legislativa do Paraná – Praça Nossa Senhora do Salete, s/n – Centro Cívico.