CRESS PR realiza Roda de Conversa “Assistentes Sociais no Combate ao Racismo”

Em referência ao mês da Consciência Negra, o CRESS- PR, através da Câmara Temática Ética e Direitos Humanos, realizou no dia 23 de novembro a Roda de Conversa “Assistentes Sociais no combate ao racismo”. Esta atividade marca a data de 20 de novembro, Dia da Consciência Negra. A data homenageia Zumbi dos Palmares, herói escravo que há 323 desafiou a chibata e as correntes do período colonial (1500-1822). Foi o último dos líderes de um dos maiores espaços de resistência contra a escravidão, o Quilombo dos Palmares, localizado na Serra da Barriga, na então Capitania de Pernambuco. Esta atividade também sublinha a campanha do triênio do conjunto CFESS/CRESS “Assistentes sociais no combate ao racismo”.

A campanha foi aprovada no fórum máximo deliberativo da categoria no ano de 2017, durante o 46° Encontro Nacional, e lançada no no dia 20 de novembro de 2018, durante atividade realizada pelo CFESS no Rio de Janeiro, com o manifesto “Vidas Negras Importam”. Participaram do evento a Enfermeira Juliana Mittelbach – representando a Rede de Mulheres Negras, Daniela Moller – representando o CFESS, e Tatiana F. Santos – do CRESS -PR.

Juliana evidenciou a necessidade de se compreender que o racismo é estrutural e se interliga a todas as opressões na atualidade, e se apresenta com um cenário de mais violência após as eleições de outubro. Resgata o histórico da escravização e que há mais de 500 anos o povo negro resiste ao projeto genocida das elites, que explorou a mão de obra de africanas e africanos (e seus descendentes).

Registra acerca das estatísticas que seguem duras e nada animadoras. Evidenciou que somente na última década, a taxa de homicídios de negros – pretos e pardos – cresceu 23%, de acordo com dados de institutos de pesquisa. Como integrante do movimento feminista, destaca que o patriarcado se alia ao capitalismo para oprimir e explorar as mulheres negras que sofrem de todas as formas todas as violências inclusive a simbólica, “ mulher negra é fogosa” , o “homem negro é bandido”. Evidencia que as pessoas brancas precisam abrir mão de seus privilégios diante de uma conjuntura adversa, que ataca frontalmente os Direitos Humanos.

Daniela Moller, conselheira do CFESS, registra que na conjuntura atual, pós-período eleitoral, o discurso discriminatório e de extermínio da população negra vitorioso nas eleições, aparece com força no cenário. Destaca a trajetória das opressões contra a população negra e salienta que a campanha do conjunto CFESS-CRESS, surge como resultado de indicação dos CRESS de todo o país e da defesa intransigente dos direitos humanos e a recusa do arbítrio e do autoritarismo, defesas vinculadas às ações de combate ao racismo, presentes no projeto ético político do Serviço Social e como forma de convidar todas as assistentes sociais em seu trabalho cotidiano em identificar o racismo e suas expressões. Também colocou que esta campanha é um compromisso do conjunto para combater as discriminações e preconceitos que temos conhecimento, a partir de nosso exercício profissional. Apresentou o link da campanha e convidou os (as) profissionais para engajar-se na mesma.

Tatiana que representou o CRESS -PR, relatou sua história e por meio dela, foi tomando consciência de sua cor e de quanto o racismo marcou sua infância e adolescência. Tatiana registrou que é bisneta de escravos e trouxe relatos sobre a sua história de vida e disse que “Nós, negros, já nascemos fazendo o enfrentamento do racismo”. Afirmou que, para ela, mulher negra, chegar ao litoral na década de 90, em uma região onde predominava brancos, foi um desafio. Acrescentou que se tornar assistente social foi fundamental para concluir que a luta para o enfrentamento não era apenas dela e de sua família, mas
sim uma luta com viés universal e coletiva, tendo em vista que o Projeto Ético-Político dos assistentes sociais.

A atuação no CRESS-PR, segundo Tatiana, foi um marco de afirmação da luta pelos direitos humanos. Participou da comissão que redigiu a carta nacional da campanha nacional do conjunto CFESS-CRESS: “Sou Assistente Social e combato o racismo”, encerrando sua fala lembrando que “a carne mais barata do mercado”, é a negra uma alusão à música brilhantemente interpretada por Elza Soares e destacou que estará a frente na formação de um coletivo de assistentes sociais negros e negras do CRESS-PR que estudará a condição, perfil dos assistentes sociais negros (as) do Estado.

As várias participantes da Roda de Conversa, companheiras negras, registraram suas trajetórias, evidenciaram a importância do evento, chamando a atenção para o espaço de fala do povo negro, da negação da história e da violação dos direitos e a preocupação com o avanço do conservadorismo, inclusive nas pautas do Serviço Social e a necessidade de enfrentamento a esta realidade.

Elza Campos, da Câmara Temática de Ética e Direitos Humanos, que coordenou a discussão, agradeceu a honrosa presença de todas e destacou que o CRESS-PR assume a campanha do conjunto de combate ao racismo lembrando do compromisso expresso na Carta programa da “Gestão Tempo de Resistir, Nenhum Direito a Menos”, de defesa dos direitos humanos e de combate as opressões e as violências e violações de direitos que acometem a juventude negra, mulheres negras, populações quilombolas, indígenas, ciganas e comunidades periféricas. Ressaltou também o compromisso histórico da categoria com uma nova perspectiva societária, lembrando que o VII CPAS terá esta discussão e convocou a todas para construção de uma ampla unidade contra o fascismo e em defesa da democracia.

Confira as fotos do evento: