Fátima, PRESENTE!

 

No dia 01 de setembro o Serviço Social do Paraná e do Brasil recebeu com tristeza a notícia da partida da assistente social Maria de Fátima de Azevedo Ferreira. E, é com muito pesar que o Conselho Regional de Serviço Social (CRESS-PR) rende suas homenagens a esta guerreira.

Militante socialista e feminista, “Fafa”, como muitas a chamavam, foi com certeza uma das assistentes sociais que deixaram sua marca de resistência em nosso estado e em nosso país. Seu perfil aguerrido desde a adolescência, quando iniciou sua luta com apenas 14 anos na União de estudantes secundaristas de Garanhuns (seu local de nascimento), e em seguida na enérgica e envolvente União Brasileira de Estudantes Secundaristas – a UBES. Fátima atuou, também, na Juventude Universitária Católica – a JUC, onde se vinculou organicamente às lutas dos campesinos pela Reforma Agrária e dos operários das fábricas que almejavam um país livre e igualitário.

Concluiu o curso de Serviço Social na Universidade Federal do Recife – PE. Para ela trata-se de uma profissão da resistência, e por isso seu acerto nesta escolha. Uma profissão que também escolheu a Fátima, para contribuir diretamente na construção do projeto ético-político radicalmente democrático. Já no segundo ano do curso, o Brasil foi sacudido pelo golpe de Estado de 1964, momento em que nossa querida Fátima militava na Ação Popular (AP), uma organização política dirigida pela igreja católica que defendia uma transformação radical no Brasil, tendo ingressado nessa organização com apenas 20 anos de idade.

Fátima filiou-se ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB) em 1972, partido este que resistiu bravamente à ditadura militar através da Guerrilha do Araguaia. Em 1974, foi condenada à revelia há três anos de prisão e a 10 anos de direitos civis caçados, ano em que nasceu sua filha Consuelo, ainda quando se encontrava na Bahia. Teve que sair da Bahia de forma clandestina e foi morar em Telêmaco Borba, no Paraná. Nesta cidade foi assistente social do Sindicato dos Trabalhadores do Papel e Papelão. Realizou um trabalho de educação popular no sindicato, mas foi convidada a se retirar em função das ameaças, num contexto de ditadura. Nesta mesma cidade trabalhou como Assistente Social no INOCOP atuando com a população na discussão de moradias populares.

Em Curitiba, Fatima trabalhou na Legião Brasileira de Assistência – LBA, e atuou na primeira direção do Sindicato das/os Assistentes Sociais do Paraná – SINDASP. Foi presidente do Conselho Federal de Serviço Social – CFESS de 1987 a 1990, ocasião em que lutou pela consolidação da Constituição de 1988, defendeu intransigentemente o Sistema Único da Saúde e agiu firmemente na constitucionalização do direito à assistência social no Brasil e na construção da Lei Orgânica de Assistência Social – Loas, sempre atuou fortemente na defesa de uma Seguridade Social universal e democrática, na efetivação dos direitos sociais, tão atacados pelo governo golpista que se instalou no Brasil após a derrubada ,de forma covarde, da presidenta Dilma.

O movimento feminista também contou com seu protagonismo na União Brasileira de Mulheres (UBM). Trabalhadoras/res contaram com sua luta política incansável na Confederação Nacional de Trabalhadores/as da Seguridade Social.CNTSS/CUT e na Central Geral dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).

Em 2008, na semana da/o Assistente Social, o CRESS – PR homenageou Fátima por sua trajetória de lutas e resistência contra a ditadura militar. E em 03 de junho de 2016, Fátima foi novamente homenageada por sua luta em defesa dos direitos no Brasil, no evento comemorativo dos 80 anos de profissão.

O Serviço Social paranaense e brasileiro perde uma grande profissional. Nesse universo de barbárie na vida social, contra o qual ela lutou bravamente, não poderíamos deixar de render nossas profundas homenagens, por sua generosidade, coragem e determinação que ficarão marcadas para sempre em nossos corações!

Que a família e os/as amigos/as possam se fortalecer na sua memória de luta. Temos certeza que é desta forma que Fátima quer ser lembrada e eternizada, como uma grande e forte militante que jamais se rendeu, uma assistente social defensora dos direitos e da democracia. Sua força será nossa força na luta por uma nova sociedade, uma sociedade livre e igualitária!

Fátima, PRESENTE!

Abertura Homenagem a Maria de Fátima Ferreira Lopes

Relatos de Memórias 1

Relatos de Memórias 2