Formação qualificada é raiz do bom atendimento à população – I Jornada Paranaense sobre Estágio

Evento organizado pelo CRESS e outras entidades debateu a formação e o trabalho em Serviço Social, em diferentes níveis. Foto: Marcia Boroski.

Estudantes, professoras/es e assistentes sociais reuniram-se para um debate urgente: a formação e o trabalho em Serviço Social em diferentes níveis. O tema foi abordado na I Jornada Paranaense sobre Estágio, Extensão e Residência Multiprofissional em Serviço Social, que aconteceu nos dias 20 e 21 de agosto e contou com palestras, mesas redondas e atividades culturais. Participaram da organização do evento, além do Conselho Regional de Serviço Social (CRESS-PR), a Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (Abepss) e a Coordenação Regional do Paraná da Executiva Nacional de Estudantes de Serviço Social (Enesso).

De acordo com uma das organizadoras do evento, e vice-presidenta do CRESS-PR, Elza Campos, o objetivo foi discutir a atual caracterização da formação profissional para uma boa qualidade nos serviços prestados a população usuária. Elza reiterou que os temas do cotidiano do trabalho são preocupações do projeto ético-político da Comissão de Trabalho e Formação Profissional (da qual participa) e assegurou a importância desses dois dias de evento: “Discutimos uma gama de informações com participantes que pesquisam e aprofundam o debate sobre a formação profissional, numa conjuntura adversa: a de precarização do ensino e desmonte dos serviços públicos”.

Júlia Nogueira Michelotto, representante da Enesso, está cursando o 6º período de Serviço Social, no Centro Universitário Unibrasil, e participou da organização da Jornada, por meio da Comissão. A estudante explicou que o evento foi importante para “se aprofundar, compreender e socializar questões sobre condições do trabalho, porque, às vezes, a sala de aula não da conta”.

Samuel Salézio dos Santos, responsável pela supervisão de campo da Regional sul 1 da Abepss, chamou atenção para a discussão do projeto coletivo profissional, proporcionada pelo evento, especialmente sobre estágio e residência. “Isso é um desafio presente em várias regiões, pois todas sofrem com a precarização do trabalho do assistente social. No caso da residência, assistimos instituições substituírem profissionais da assistência por residentes, além de criarem relações de trabalho autoritárias”, explica.

Participaram do evento, também, residentes que atuam no estado. Foi o caso de Larissa Bastos, Assistente Social e residente no Programa Saúda da Mulher, do Complexo Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que participou de uma discussão coletiva acerca do trabalho. “A conjuntura atual, o estágio, a extensão e a residência são temas importantes, que foram discutidos no contexto dos cortes nas políticas públicas e dos ataques à educação, pois respinga em todos os níveis”, avalia.

 

Contexto do trabalho em Serviço Social

A conjuntura atual foi uma das preocupações do evento, a fim de compreender o universo atual no qual o Serviço Social está inserido. Roberto Baggio, coordenador do MST, numa análise, abordou, na mesa de abertura, o cunho político de algumas estratégias mercadológicas, que respigam diretamente na formação e no exercício do Serviço Social.

Nesse cenário, o contexto do estágio no Paraná é bem diverso, mesmo com o marco regulatório, de 2000, conforme pesquisa realizada e apresentada por Melissa Portes, doutora em Serviço Social e professora e pesquisadora da Universidade Estadual de Londrina (UEL) “A partir da tese, verificamos uma diversidade de práticas e organizações do estágio no Paraná, pouco acúmulo de pesquisa na área, além de diferentes interpretações do Marco regulatório”, explicou a professora, que compôs uma das mesas redondas. Para ela, o evento marca a socialização e aproximação das experiências sobre o cotidiano do trabalho.

A residência é um dos níveis que acaba absorvendo muitas/os profissionais da área, frente à diminuição de vagas no mercado, em instituições diversas e dentro do funcionalismo público. Nesse sentido, a Thaisa Closs, docente da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, trouxe para a Jornada a discussão de um mapeamento de residências no Rio Grande do Sul que absorvem estes profissionais, para além do mercado e do Sistema Único de Saúde (SUS). “O evento é fundamental para construir coletivamente alternativas, repensar a organização e qualificar o atendimento da população usuária, criando possibilidades de educação permanente e atualizada”, avaliou.

De acordo com a professora doutora da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Lenir Mainardes, a discussão da formação profissional é uma preocupação elementar para a área do Serviço Social. “A Jornada traz para o debate temas que têm dimensão coletiva e que relacionam o Serviço Social a questões econômicas, políticas e sociais”, defende Lenir, que é uma das coordenadoras da Especialização em Gestão Pública (estruturada de forma multiprofissional, em diversas ênfases, por meio de Instituições Públicas de Ensino Superior do Paraná).

Silvana Escorsim, docente da Universidade Federal do Paraná, defende que esses eventos “são essenciais para problematizar a realidade, haja vista que as/os profissionais do Serviço Social têm preocupação basilar com a formação do ser social. O trabalho, portanto, deve ser debatido constantemente pela nossa categoria”.