Terceiro dia do VI CPAS – Minicursos e Trabalhos

O VI Congresso Paranaense de Assistentes Sociais chegou ao terceiro dia trazendo debates sobre temas da prática profissional por meio de minicursos. Seis minicursos foram ministrados às/aos participantes do VI CPAS na manhã deste terceiro dia de atividades do Congresso, 13 de novembro. No período da tarde aconteceu a segunda parte das apresentações dos trabalhos inscritos pela categoria e aprovados para apresentação no evento.

Confira como foram os minicursos no período da manhã:

O trabalho da/o Assistente Social no SUAS

Na discussão sobre a atuação profissional no Sistema Único de Assistência Social a professora Denise Fank (UEL) enfatizou que as políticas sociais figuram num campo de contradições, implementadas no âmbito da estrutura pública burocrática, e que seu aprimoramento está vinculado ao aprofundamento da democracia. Denise ressaltou a importância do reconhecimento do papel da/o assistente social no processo de implementação da cidadania e de acesso aos direitos. “Não podemos nunca perder o foco de onde é que a gente está”, afirma. Ela reconhece que no exercício profissional ter introjeção em cada área do trabalho nem sempre é fácil, mas que é importante fazer um exercício diário de reflexão e exercitar a compreensão crítica da realidade. Para Joany Martins, assistente social atuante em Pinhais, além da relevante fala, foi muito interessante a troca de experiências: “há desafios diferentes em cada município e há também os desafios comuns, então o Congresso traz uma riqueza de experiências para fortalecermos nossa atuação”.

O trabalho da/o Assistente Social na Saúde

Contando com a participação de Letícia Batista da Silva, da Fiocruz, e Sílvia Albertini, da Secretaria de Estado da Saúde do Paraná, o minicurso foi importante para firmar a compreensão de que a saúde é um direito, um serviço social, e como tal não pode ser confundida com mercadoria. A comentar sobre a relação entre público e privado, Letícia Batista afirmou que todas/os acabam pagando por planos de saúde, mesmo não utilizando. Isto em razão da denúncia fiscal feita pelo Estado aos planos de saúde, que atendem 50,6 milhões. Para as assistentes sociais Maria Veronica Amatussi, Silvana Rocha, Priscila Wolski e Maria Ap. Danella, todas atuantes em São José dos Pinhais, o ponto central foi o debate sobre universalização do SUS e a Saúde do/a trabalhador. Elas também destacaram a comparação realizada entre os serviços públicos de saúde com outros países para a constatação de que estamos longe de uma saúde universal. “Ficou claro que no Brasil a Saúde tem sido vista não como direito universal, mas como mercadoria, visto as politicas de terceirização e privatização que têm aumentado no país”, comentaram.

Educação Popular vs Educação formal

Maria Aparecida Zanetti, da UFPR, e Wagner Amaral, da UEL, fizeram uma intervenção na qual dialogaram o tempo todo entre eles e as/os participantes da plenária. O debate mostrou que embora a educação popular tenha uma proposta dialógica, ainda enfrenta resistências no sistema educacional tradicional. Ao falar sobre o processo engessado da educação formal Maria Aparecida arrancou risos ao falar sobre as roupas de “tamanho único”, e comparou: “Muitas vezes a escola, o planejamento, são feitos para tamanho único, como se todos fossem iguais, pensassem da mesma maneira”. Segundo ela, dentro desta ideia do “tamanho único” as cartilhas são pensadas para um aluno abstrato. Wagner falou sobre a cartilha de alfabetização “Caminho Suave”, que inovou no uso das imagens no final dos anos 1960, mas fez uma ressalva: “A questão é: quais imagens? Quais palavras? Quais textos?”. A participante Karoline Rodrigues, assistente social de São Luiz-MA, comenta acreditar que tobjetivo uma transformação no sistema de ensino, mas que devemos também procurar, dentro dos moldes atuais, procurar fazer a inserção dos conceitos da Educação Popular na Formal.

Formação Profissional e Supervisão de Estágio

Alzira Lewgoy, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), destacou que o estágio em Serviço Social deve ser visto na perspectiva de formação, e não só de informação. É uma atividade fundamental para o desenvolvimento de competência intelectual e política, e exige uma análise do grau de complexidade das mediações. Para Alzira, é preciso entender melhor as estratégias utilizadas na formação em Serviço Social no ensino superior. O curso trouxe assuntos correlatos diversificados na temática da supervisão do estágio. Para Adriane Baglioli, profissional atuante em Campo Magro-PR, o central foi debater o tema pensando nos três lados: o/a estagiário/a, a supervisão de campo e supervisão acadêmica. Ela ainda comentou sobre um ponto debatido que foi a supervisão nos cursos de EAD, visto que o conjunto CFESS CRESS tem posicionamento contrário à modalidade tendo na dificuldade de uma supervisão efetiva nesta modalidade. Para elam porém ficou claro que o posicionamento é contrário à modalidade, e de nenhuma forma deve ser entendido como contrário aos/às profissionais formados em EAD.

A dimensão pedagógica na prática profissional do/a Assistente Social

Sarita Amaro, assistente social e professora da Universidade Federal de Santa Maria, destacou a grande relevância da atuação da/o assistente social na perspectiva pedagógica. Em uma das experiências compartilhadas, Sarita relatou que foi chamada por uma escola para iniciar um novo projeto. A proposta feita por ela foi de criação de uma rádio escolar, e para fazerem parte da iniciativa escolheu a turma que a escola considerava pior. A experiência trouxe uma série de aprendizados. “Nosso pedagógico é criar instrumentos e metodologias. É pedagogia social, é pedagogia da cidadania”, afirma Sarita. De acordo com Deise Berno, assistente social em Curitiba, o minucurso teve uma conexão com a plenária sobre Serviço Social na Educação realizada no dia 12 no Congresso, em que abordou a importância de que o/a assistente social compreenda plenamente suas atribuições nas escolas e que saiba se posicionar.

Ética e instrumentalidade: o Estudo Social e a Perícia

Um dos temas abordados neste minicurso foi a falta de equipes próprias no judiciário, o que precariza o trabalho da/o assistente social e compromete a assistência à população. Para cobrir esta ausência o Poder Judiciário acaba requisitando ao Poder Executivo profissionais que atuam no Serviço Social. Daniella Moller, conselheira do CRESS-PR e assistente social do Tribunal de Justiça do Paraná, destacou que o investimento central tem sido a exigência da realização de concurso público para que este problema seja solucionado. Foi ressaltado também que, por dever ético da profissão, as/os assistentes sociais devem denunciar estes procedimentos e não acatar tal requisição do judiciário. Fernanda Camargo, conselheira do CRESS-PR e professora da Unibrasil, afirma que é reconhecida a pressão que as/os profissionais sofrem ao se recusarem a atender a solicitação, mas reforça a necessidade de manter esta luta. A estudante Kellyn Karoline comentou que o debate sobre as requisições do Judiciário aos/às profissionais da Assistência chamou a atenção dela. “Isso entra até em uma questão ética, pois não é atribuição do/a profissional da assistência a realização destes laudos para o judiciário, resultando em precarização do serviço”.

 

Apresentação de Trabalhos

No período da tarde do dia 13 de novembro foram finalizadas as apresentações dos trabalhos inscritos pela categoria de profissionais e estudantes de Serviço Social e aprovados pela comissão avaliadora do VI CPAS. As apresentações aconteceram dentro de diferentes eixos: “Espaço sócio-ocupacional, relações e condições de trabalho do assistente social”; “Proteção Social no Mercosul”; “Justiça, Violência e segurança pública”; “Mulher, gênero, raça, etnia e identidade de gênero”, “Família e relações sociais”; “Seguridade social: concepção, financiamento, gestão e controle social”; “Questão Urbana, agrária e meio ambiente”.

Para os/as participantes, a experiência foi uma oportunidade de contribuir com as reflexões sobre a profissão. “Atuação do/a assistente social a partir da ficha de notificação de agravos” é o titulo do trabalho apresentado por Alexsandra Moreira. Pela primeira vez ela apresenta um projeto no Congresso e diz que se sente compreendida. “Quando eu apresentei percebi que não era uma inquietação só minha, isso me traz mais animo para uma intervenção mais acertada”, conta.

 Cleonice Raimondo apresentou o trabalho “Reflexões sobre a seguridade social no Brasil”. Não é a primeira vez que apresenta projetos no Congresso, e conta que é sempre muito produtivo. “É um conhecimento que você partilha e da ao seu conhecimento a possibilidade de intervenção”, explica.

155 trabalhos foram aprovados para apresentação no VI CPAS. Os trabalhos serão disponibilizados no site do CRESS-PR.

O Congresso continua neste sábado, dia 14.

Confira outras fotos do dia 13/11: