Congresso inicia com reflexões sobre a atual conjuntura

Na noite desta quarta-feira, 11 de novembro, iniciou-se na PUC-PR em Curitiba o 6o Congresso Paranaense de Assistentes Sociais. Este primeiro dia da programação contemplou importantes análises sobre o papel do/a Assistente Social diante de um cenário político marcado por retirada de direitos.

Mesa de abertura

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Antecedendo a Conferência “Assistente Social: profissional de luta, profissional presente! Na defesa dos direitos e da emancipação humana”, estiveram à mesa de abertura a Conselheira do CFESS Esther Lemos; Teresio Gabriel, da Enesso; Kristiane Plaisant, do Sindasp; Jucimeri Silveira da PUC-PR; e Janaine Santos, do CRESS-PR.

Esther abriu as falas ressaltando a importância do Congresso para efetivar lutas que fazem parte da profissão e que são pautadas constantemente pelo conjunto CFESS-CRESS. Ela destacou o papel do CRESS-PR na articulação com as lutas sociais, citando como exemplo a participação do conselho em frentes e iniciativas iniciadas após o massacre aos servidores públicos em Curitiba em 29 de abril. Ela também fez o destaque para o compromisso assumido desta gestão do CRESS na descentralização de ações.

Na sequência Teresio Gabriel parabenizou a organização do Congresso e lembrou que o papel de uma Executiva vai além dos eventos. “Devemos estar junto dos estudantes. A luta se faz no dia a dia”, comentou. Kristiane, do Sindasp, também fez uma fala ressaltando a expectativa de bons debates e boas reflexões. “Que bom que temos este momento. sei que juntos vamos somar forças”. Pela Puc-PR Jucimeri de Oliveira parabenizou o CRESS pela forma como evento foi organizado, privilegiando maior participação da categoria. Ela também lembrou que o momento é de fundamental importância diante do cenário de retrocesso que se vive hoje, em especial no Paraná.

Fechando a mesa inicial, a conselheira do CRESS-PR, integrante da comissão organizadora do CPAS, Janaíne Santos, falou aos presentes sobre o orgulho de oportunizar este momento: “O congresso foi planejado e construído com muito carinho, mas este espaço não alcançará o seu objetivo se não houver dedicação nos debates e reflexões”. Ela convidou a todos/as a aproveitar o momento para repensar a prática profissional.

Conferência “Assistente Social: profissional de luta, profissional presente! Na defesa dos direitos e da emancipação humana”

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O professor Nildo Ouriques, da UFSC, trouxe um panorama do cenário político atual, apontando como as contradições geradas pela atual ordem societária se evidenciam cada vez mais. “Em todos os campos observamos que a classe dominante é que tem acesso garantido aos recursos públicos”, disse ele. Entre os exemplos citou o grande volume de recursos públicos destinado à agricultura de latifúndio e ao volume bem menor do investimento na agricultura familiar. O professor pontuou a necessidade de reflexão sobre o que ele caracteriza como colapso de um sistema que está incapaz de se renovar, afirmando que não se pode mais esconder que a crise que se diz hoje financeira é na verdade estrutural. “Não apenas o neoliberalismo mas também o desenvolvimentismo não nos livra desta crise estrutural”, disse. Em um dos pontos contundentes da palestra apontou também como mesmo o governo que deveria ser de esquerda não conseguiu mudar um panorama que privilegia a poucos. Para ele, os programas sociais são hoje instrumentos que poderiam ser utilizados tanto pela esquerda como pela direita. Mesmo beneficiando milhares de pessoas estes programas representam menos de 1% do PIB nacional. Com essa contextualização, passou a chamar a atenção para a necessidade de mudança de uma ordem societária e foi enfático ao dizer que os/as assistentes sociais devem fazer uma auto-reflexão se estão sendo cúmplices desta ordem atual. Por fim, convocou a todos a neste congresso a aproveitar o cenário de crise para uma renovação da práxis política.

Em consonância com esses questionamentos, o segundo palestrante da noite, Jefferson Lee de Souza Ruiz, da UERJ, apontou em sua fala os riscos de contradições no fazer profissional em relação ao cumprimento do projeto ético político do Serviço Social. Iniciou sua fala por uma contextualização histórica do que significa a expressão Direitos Humanos, visto que é uma expressão em disputa. Para ele, por um lado, todos os direitos são humanos, pois, são pensados do ponto de vista da humanidade, independente se são ambientais, civis, ou outras categorias. De outro lado, o conceito de direitos é sempre ligado à satisfação da necessidade das pessoas ou grupos. “Até os reacionários que foram às ruas pedir a volta da ditadura militar estão clamando por direitos. Na história há muitos casos de atrocidades que foram ligadas a pessoas que defendiam direitos humanos sob a perspectiva delas”, apontou. Para o palestrante, tem que se ir além desta concepção de direitos como a essência do debate. E passou a questionar como o/a assistente social tem que ter a clareza de que sua prática profissional está ligada a um campo de contradições. “Como podemos trabalhar para o Estado e ainda assim cumprir nosso projeto Ético Político que visa uma transformação societária?”, disse. Apontou também que a categoria possui um código de ética dos mais avançados sob a perspectiva da defesa da essência humana mas alertou que apenas isso não faz com que a luta esteja implícita. A atuação profissional deve ser de luta diária. Para ele, cada vez que um assistente social nega um atendimento por não contemplar uma etapa burocrática do trabalho ou então cada vez que o/a profissional assume um discurso fatalista assumindo a inoperância do estado, ele/a também está violando direitos. “Para mim, nunca ninguém disse que ser assistente social seria fácil”, comentou Jefferson, afirmando que os desafios da atuação na conjuntura atual são imensos.

Para os/as participantes esta mesa inicial contribuiu para já direcionar algumas reflexões que são esperadas durante o CPAS. A assistente social Glacielli Souza, de Curitiba, considerou que as falas trazem um enriquecimento da profissão. Ela afirma que este tipo de fala fortalece a categoria, pois tem que lidar rotineiramente com contradições de atuar no estado mas ao mesmo tempo faz parte de uma categoria que se posiciona contra o projeto neoliberal. No mesmo sentido, a estudante Vanessa Sanches Lange, de Toledo-PR, comenta que para os/as estudantes a reflexão apresentada é fundamental, “para percebermos que temos que ir além do que está posto e fazer uma análise crítica não apenas do cenário político mas de como vamos conduzir nosso fazer profissional”.

As assistentes sociais de Terra Roxa-PR, Jéssica de Souza e Camila de Melo, também parabenizaram o evento e o teor da conferência inicial. “Eles foram assertivos nas críticas, ao apontar que os governos precisam rever políticas. E isso recai em nosso papel, pois não podemos ser apenas executores/as, mas atuamos no planejamento das políticas públicas”.

Programação Cultural

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A abertura do evento também foi momento de celebração e animação. Antes das falas os participantes contaram com a intervenção do grupo de Maracatu Aroeira. Outro momento que contribuiu para já antecipar o clima de reflexão foi a mística inicial realizada no auditório, em que foram destacadas expressões extraídas do Código de Ética profissional, que enaltecem a luta do Serviço Social.

Ao final, após os debates, o encerramento da noite ficou por conta de Kauane Karas, única transsexual a interpretar Clara Nunes.

 

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