Assistentes Sociais em Curitiba debatem “Na Copa, comemorar o quê?”

Com cerca de 200 participantes, aconteceu no dia 21 de maio a comemoração oficial do CRESS/PR ao Dia do/a Assistente Social em Curitiba. Foi um dia de comemoração mas também um dia de lutas, como disse a conselheira do CFESS, Esther Lemos, na sua fala durante a mesa de abertura do evento. A mesa de abertura foi composta pela conselheira Esther, pelo estudante Jackson Teixeira da Silva, representando a ENESSO (Executiva Nacional dos Estudantes de Serviço Social) e pela conselheira do CRESS/PR Clarice Metzner, representando a nova gestão do Conselho.

O tema do encontro foi “Violação de diretos em tempos de megaeventos: o que o/a assistente social tem a ver com isso?”, em alusão ao tema do Dia do/a Assistente Social trabalhado neste ano pelo conjunto CFESS-CRESS.  Em sua fala a conselheira do CFESS, Esther, lembrou o motivo da escolha deste tema:

“É um tema que convoca a gente a pensar em como este patrimônio cultural que temos, que é o futebol, tem todas suas decisões pautadas na lógica do mercado. Temos que gritar pelos investimentos em saúde pública, educação e moradia”.

Na mesma linha, defendendo a luta por direitos fundamentais e denunciando as violações de direitos realizadas em razão da Copa, falaram o representante da ENESSO e a conselheira do CRESS/PR. Jackson comentou que os gritos pela liberdade vão além da liberdade publicizada pelo Capital, convocando os presentes a combater os valores pregados pelo Capitalismo e que estão sendo reafirmados para a realização da Copa. A conselheira do CRESS/PR, Clarice, lembrou que o debate sobre o tema vai além dos financiamentos públicos ao megaevento e envolve a violação de uma série de direitos à cidade. “Direito à cidade é romper as desigualdades sociais”, afirmou Clarice, enfatizando que os interesses em promover a Copa vão contra este direito. Como conselheira de uma nova gestão do CRESS, Clarice ressaltou a participação da categoria e também de representantes de movimentos sociais e convocou os presentes a continuar a participar ativamente do Conselho, propondo novos debates e ações.

A Mesa Redonda contou com três palestras:

– Análise de conjuntura sobre Copa e megaeventos , pela advogada Luana Xavier Pinto Coelho, da Terra de Direitos e do Comitê Popular da Copa de Curitiba e da Articulação Nacional dos Comitês Populares;

– Articulações dos/as Assistentes Sociais no contexto da Copa, pela Assistente Social Andrea Luiza Curralinho Braga, também  integrante do Comitê Popular da Copa de Curitiba e Professora Substituta na UFPR/Litoral;

– E políticas públicas, direitos, violações e exercício profissional, pela doutora em Serviço Social Carmelita Yazbek, atualmente, professora de Pós Graduação em Serviço Social da PUC-SP.

A fala da advogada Luana trouxe uma contextualização de como se deu as articulações da sociedade civil para fiscalizar, acompanhar e denunciar as violações de direitos cometidas desde quando foi anunciado o Brasil como país-sede. Assim ela apresentou fatos como a criação da Lei da Copa, que nada tem de finalidade pública, pois é voltada para proteger os direitos da Fifa e de grupos empresariais, flexibilizar a realização de licitações, apontando que a realização da Copa é pautada pelos interesses econômicos privados. Ela também ressaltou diversos fatores como o autoritarismo na escolha das obras, ao invés de processos democráticos. “Ninguém aqui participou da escolha do viaduto estaiado, por exemplo”. Ela apontou, a partir do acompanhamento feito pelos Comitês Populares da Copa diversas atrocidades realizadas contra a população e que têm sido denunciadas, finalizando com o questionamento retórico: “Copa é para quem?”

A Assistente Social Andrea Braga trouxe dados complementares aos lançados pela Luana. Ela lembrou do lançamento do dossiê “Copa do Mundo e violações de Direitos Humanos em Curitiba”, sendo uma série de exemplares do dossiê distribuída aos participantes do encontro. Ela apontou que a participação do CRESS/PR aconteceu desde a fase embrionária do Comitê Popular da Copa, em 2010, e desde então vêm propondo manifestações e a defesa dos direitos das populações atingidas pelas obras ligadas à realização da Copa. Ela também evidenciou como a realização do evento é movida pelos negócios. Apresentou que nas cidades-sede da copa sempre houve casos de famílias que estavam no caminho que liga o aeroporto ao estádio serem removidas de suas casas, citando caso presente no Dossiê sobre a Vila Nova Costeira. Andrea apresentou em sua fala a relação entre o Serviço Social e a questão apresentada. Apresentou situações em que ocorre violação do direito das comunidades em permanecer nos seus espaços de convivência, violação do direito ao trabalho, à participação e controle social e outra violações de direitos humanos.

A fala da Dra. Carmelita apresentou um contexto mais amplo do que a Copa.

Ela mostrou que existe um conflito histórico dos interesses públicos e os interesses do capital no processo de construção das políticas urbanas. A fala da professora apontou por exemplo, que quando se acelerou o processo de urbanização nas cidades existe na mesma velocidade uma alteração na questão social. “Passamos a ter novas configurações da cidade, com direcionamento dado pelos investimentos imobiliários, ou seja a cidade tem seus valores contruídos com base nos interesses das grandes corporações”, comentou Carmelita. A realização da Copa tem acelerado ainda mais este processo. “Os imóveis após o PAC e o Minha Casa, Minha Vida” tiveram uma valorização de mais de 180% ao menos no Rio e São Paulo. Com a Copa esta especulação aumenta mais ainda”, exemplificou. Comentou ainda que a periferia das cidades está cada vez maior ou seja, as políticas de urbanização não acompanham o crescimento das cidades. Ela lembrou a importância do/a Assistente Social, por ser o/a profissional que está em contato direto com a população afetada pelos impactos da crescente urbanização e das obras da Copa.