Marcha das Vadias reuniu cerca de 2 mil pessoas em Curitiba

O CRESS/PR esteve presente no evento, apoiando a luta contra a culpabilização da mulher pela violência de gênero sofrida. Veja aqui o Manifesto da Marcha das Vadias

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Cerca de 2 mil pessoas estiveram presentes na 2ª Marcha das Vadias de Curitiba que ocorreu no último sábado, dia 14. Mulheres e homens, hetero e homossexuais, travestis e transexuais se reuniram para protestar contra a violência de gênero, principalmente a violência sexual e doméstica. Durante a Marcha os/as manifestantes apresentaram dados e lembraram de vítimas de agressões físicas no Estado. Entre os dados citados esteve que o Paraná ocupa o 3º lugar no ranking de índices de violências contra a mulher. Entre os casos citados de violência esteve o de uma adolescente morta a pedrada pelo namorado em Curitiba, após confessar que tinha o traído.

Outro depoimento que chamou atenção foi de Márcia Alves Martins que ficou em cárcere privado durante uma semana por seu ex-marido e ficou paraplégica após se jogar de um prédio ao tentar fugir.“Quando eu falei que iria me separar dele, ele não aceitou e acabei tendo que fugir. Fiquei escondida durante um tempo e ele descobriu e me seqüestrou. Fiquei em cárcere privado durante uma semana, sofrendo todo tipo de violência como: estupro, roleta russa, choque e injeções. Quando ele decidiu que iria me matar no dia seguinte, eu inventei uma desculpa para conseguir que ele me soltasse. Fui fugir tentando pular do terceiro andar e fiquei paraplégica devido a queda” comentou Márcia. Ela ressaltou como é falho o sistema judiciário: “Meu acidente aconteceu em 1994 ele ficou 10 anos solto tendo a vida normal, trabalhando. Depois de 10 anos ele foi a júri popular e foi condenado a 8 anos e 2 meses. Ele acabou se suicidando devido a outros problemas, sendo que ele não se achava culpado por eu estar na cadeira de roda, falando que a culpa era minha por ter pulado do prédio” disse Márcia Martins.

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O CRESS/PR esteve presente na Marcha das Vadias, representado por conselheiras e também pelo grupo de assistentes sociais que realizavam no sábado o Curso Ética em Movimento em Curitiba e fizeram uma pausa na programação para apoiar a Marcha. A proposta foi possibilitar a vivência do/a Assistente Social na luta por direitos. “No dia da marcha tivemos aula teórica sobre direitos humanos e logo após pudemos participar da luta contra a violência da mulher e de gênero, ou seja, foi uma experiência muito importante para todas/os que estavam lá” comentou a Assistente Social e multiplicadora do curso, Emanuelle Pereira. Ela ressaltou a importância da causa defendida na Marcha. “É um movimento que dá visibilidade e que consegue mostrar para a sociedade o que a mídia não mostra, que são números alarmantes de violência contra a mulher” lembrou Emanuelle.

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O conjunto CFESS/CRESS tem avançado no debate de gênero, no campo dos direitos humanos e tem se somado a todas as lutas por emancipação, tanto das mulheres, na defesa dos seus direitos, da autonomia sobre o seu próprio corpo, direitos sexuais e reprodutivos, bem como, da classe trabalhadora em geral. Entende-se que precisamos avançar também no debate das questões mais amplas que mantém e reproduzem o capitalismo, lutando e combatendo o patriarcalismo, o machismo estrutural.

Os movimento sociais de luta feminista e das mulheres, assim como o movimento LGBT e demais movimentos emancipacionistas, que almejam uma nova ordem societária, tem no CRESS um parceiro e um aliado.

Veja aqui mais fotos da Marcha

Leia abaixo o Manifesto da Marcha das Vadias

MARCHA DAS VADIAS CWB – 2012

Precisamos mesmo de uma Marcha das Vadias?

Em 2011 realizamos em Curitiba a primeira Marcha das Vadias, buscando refletir sobre a culpabilização da mulher em casos de agressão sexual. Tivemos intensos debates sobre a validade do movimento, a polêmica do nome e a origem canadense da Marcha. Discutimos sobre a participação das mulheres negras, sobre o caráter elitista do grupo, a participação masculina, o apoio às prostitutas, a causa LGBTT, o movimento feminista curitibano. Mobilizamos virtualmente quase 30.000 pessoas em torno da discussão sobre a cultura de agressão sexual. Levamos mais de 1000 pessoas às ruas do centro de Curitiba, para reivindicar a autonomia no uso do próprio corpo e debater a violência que assola a nossa cidade.

Durante todo o ano fomos às ruas, ocupamos a Boca Maldita, discutimos o machismo da política paranaense, nos manifestamos a favor da descriminalização do aborto e contra a banalização da violência sexual na TV. Comemoramos o Dia do Laço Branco, da Não-Violência, criamos campanhas de conscientização pelo fim da violência de gênero. Participamos da Conferência Municipal de Políticas Públicas para Mulheres e fizemos parte, juntamente com outros coletivos, da organização da Marcha das Mulheres do Campo e da Cidade. No dia 08/03 marchamos por um mundo mais justo.

Missão cumprida? Não, estamos muito longe disso. Os números da violência de gênero crescem a cada dia, no Brasil e em nossa cidade. No nosso país quase 2,1 milhões de mulheres são espancadas por ano, sendo 175 mil por mês, 5,8 mil por dia, 4 por minuto e uma a cada 15 segundos. Em 70% dos casos, o agressor é uma pessoa com quem ela mantém ou manteve algum vínculo afetivo. As agressões são similares e recorrentes, acontecem nas famílias, independente de raça, classe social, idade ou de orientação sexual de seus componentes.

O Brasil é o 7° país do mundo que mais mata mulheres. O Paraná é o 3º estado no ranking e Piraquara é a 2º cidade brasileira com maior número de assassinatos de mulheres. O Paraná é o segundo estado mais homofóbico do país. A cada 1 dia e 1/2 uma pessoa trans é brutalmente assassinada em Curitiba. Em 2011, no Paraná, mais de 17 mil mulheres foram agredidas e mais de 4 mil foram vítimas de crime sexual. Em 2012, quase 5 mil mulheres foram vítimas de violência. Em Curitiba, 115 mulheres foram assassinadas em 2011 e 30 mulheres foram mortas no início de 2012.

Sabemos que estes números são ainda maiores, pois muitas vítimas não denunciam seus agressores. E são assustadores, poisa maioria das agressões (física, sexual, psicológica) ocorrem em casa e que desde criança estamos sujeitas a elas.

Criamos uma sociedade que tolera a violência e que atribui a culpa à própria vítima. É essa cultura machista que queremos transformar. Lutamos para que a mulher deixe de ser vista como um mero objeto e passe a ser vista como uma pessoa, com direitos e vontades.

Para que isso seja possível, precisamos de políticas públicas voltadas à saúde, educação e segurança, além de um amplo debate com toda a sociedade. Este é o primeiro passo para que possamos finalmente reverter esse quadro.

Por isso acreditamos que precisamos, sim, levar as Vadias novamente às ruas, para mais uma vez mostrar à toda a cidade que não iremos nos calar.

MEXEU COM UMA, MEXEU COM TODAS

AGRESSÃO SEXUAL: A CULPA NUNCA É DA VÍTIMA