Cuba, pero que si, pero que no

Por: Elza Maria Campos, Coordenadora do Curso de Serviço Social da Unibrasil, vice-presidente do Conselho Regional de Serviço Social – CRESS – 11ª Região e da Coordenadora da União Brasileira de Mulheres – Seção Paraná.

Cuba tem uma história de lutas desde o século XIX para se tornar uma nação livre. A revolução de janeiro de 1959 foi o passo decisivo. Inspirados pelos escritos anti-imperialistas de José Marti, reafirmando as primeiras lutas dos patriotas cubanos da metade inicial do século XX, Fidel, Ernesto Guevara, Camilo Cienfuegos e seu heróico exército desembarcado pelo Granma, lideraram o povo cubano em sua libertação do jugo imperialista norte-americano. Abriram espaço à construção de um país realmente independente e com direitos para seu povo, apesar do criminoso cerco político-econômico dos EUA com que passaram a se defrontar depois que aderiram ao caminho socialista, situação que impõe aos cubanos grande número de dificuldades.

Com pouco mais de 11 milhões de habitantes, sendo 70% na área urbana, Cuba sobrevive apesar do bloqueio econômico imperialista. Ali a expectativa de vida é de 74 anos, a taxa de alfabetização está em 95%, há 6 médicos para cada mil habitantes, licença-gestante de um ano, prorrogável por mais um ano, saúde e educação gratuitas em todos os níveis. O país, contudo, padece para conseguir um parque tecnológico próprio e auto-suficiente. Hoje sua principal fonte de economia é o turismo, que é desenvolvido com muita competência.

O sistema de seguridade social, cujos princípios são os da solidariedade, universalidade e integridade, pode ser caracterizado como um dos mais abrangentes do mundo e oferece benefícios monetários, em serviços e em espécie que incluem entre outros: subsídios por enfermidades e acidentes, ajuda por maternidade, pensão por idade, morte ou invalidez, assistência médica e odontológica, preventiva e curativa, hospitalar em geral, reabilitação física, psíquica e laboral, serviços funerais e aparelhos de ortopedia e próteses.

Atualmente o governo Lula reforça relações com Cuba, destacando sua política internacional de amizade, apoio e trocas comerciais entre os países. Além das tradicionais bolsas de estudos concedidas para brasileiros freqüentarem a ELAM (Escola Latino-americana de Medicina) e de bolsas para estudos em nível superior nas áreas de Esportes e Educação Física, de Artes e em outros segmentos do conhecimento, as relações entre os países tem sido no sentido de explorar outros segmentos como a busca de petróleo, que tem também os governos da China e da Venezuela, fato que é saudado pelos cubanos.

Uma viagem à ilha socialista

“Talvez sim, talvez não” – Estas palavras foram ouvidas durante os 10 dias em que 22 sonhadores viajantes*  saíram de Curitiba rumo à Ilha socialista tão marcada em nossa subjetividade pelas heróicas e bravas lutas de Ernesto Che Guevara e pelo arrojado dirigente Fidel Castro. Mas os participantes desta viagem turística tinham objetivos diferentes, todos sonhavam em pisar na Ilha e apreciar suas belíssimas paisagens e belezas naturais. Além disso, descobrir um pouco mais sobre o socialismo que resiste há mais de 50 anos, apesar do cruel bloqueio comercial imposto pelos Estados Unidos, assim como levar solidariedade à luta pela libertação dos cinco heróis cubanos, que há onze anos foram seqüestrados e presos nos Estados Unidos sob alegação de serem espiões do Governo Cubano.

Mesmo após a longa viagem de seis horas entre o aeroporto Afonso Pena e Caracas, toda a delegação estava disposta a conhecer mais sobre Cuba, seu povo, sua cultura. Alguns a respeitam e amam pela luta revolucionária; outros tinham informações através da imprensa, internet e livros. Havia uma vontade de obter algumas respostas sobre como um país tão isolado economicamente resiste heroicamente, mantendo sua educação pública e gratuita em todos os níveis e a atenção básica de saúde para todos.

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Nós fomos recepcionados pelos sorridentes cubanos de uma agência de turismo, exibindo um cartaz onde se lia “amigos do Paraná”, placa que nos acompanhou por diversos lugares que conhecemos. Saindo do aeroporto, já pudemos perceber o cenário interessante, com cartazes da revolução, um número considerável de carros antigos pela bela Havana, além de um clima muito agradável e um povo alegre, enquanto nos dirigíamos ao local onde ficaríamos antes de nos dirigirmos para Cienfuegos.

Nosso primeiro passeio, com um guia turístico, foi até a Praça da Liberdade, um amplo espaço rodeado dos principais ministérios do governo, onde são realizados grandes atos públicos em datas como o 1º. de maio (Dia do Trabalhador) e o 1º. de janeiro, data comemorativa do início da revolução cubana. Nela, há um imenso quadro de Che exposto na parede de um dos em prédios, de aproximadamente dez andares. Enquanto cruzávamos as ruas, o guia relatava a história cubana. El Cerro, um bairro onde vivia a aristocracia de Havana, apresenta casas enormes com detalhes próprios dos colonizadores espanhóis. Pelas dificuldades econômicas impostas ao país, segundo o guia, não se coloca como prioridade a realização de pinturas ou recuperação nestas belas construções.

Em seguida, visitamos o Forte do Morro e a Fortaleza San Carlos de La Cabaña, uma aventura histórica por dentro da cidade, por onde se avista toda Havana. As antigas edificações foram palco de batalhas históricas cubanas. Em janeiro de 59, depois da tomada do poder, Che Guevara ocupou esse prédio e dirigiu o Ministério do Interior até junho do mesmo ano.

Em caminhada passeamos por Havana Vieja, andamos pelo malecón – um calçadão que começa no bairro de Vedado e atravessa boa parte da cidade, uma boa brisa do mar e a bela paisagem dos prédios históricos e seus detalhes arquitetônicos compondo a beleza do lugar. Belíssima Plaza de la Revolución, onde se cultuam dois grandes heróis nacionais: José Martí e Che Guevara.
Ao passear com a camisa verde e amarela da bandeira brasileira, somos constantemente abordados por cubanos com palavras de estímulo e de amor ao nosso país. A admiração pelos brasileiros é manifestada pela simpatia desmedida ao nosso futebol e às nossas novelas.

Como o roteiro incluía a visita por algumas cidades do país, no dia seguinte nos dirigimos para Cienfuegos, conhecida como “A Pérola do Sul”, única cidade fundada pelos colonialistas franceses em 1819. Cienfuegos fica às margens da baía, na entrada do Mar do Caribe. Em meados do século XVIII (1745), os espanhóis construíram a fortaleza de Nuestra Señora de los Angeles de Jagua, para proteção contra os piratas do Caribe.

A fortaleza é considerada monumento nacional, um lugar de onde se tem uma das vistas mais impressionantes do litoral da cidade. O atrativo principal de seu centro histórico consiste em um conjunto de construções com grandes colunas e amplos vestíbulos. Impressiona a todos com suas ruas alinhadas e limpas, além da beleza do mar.
Antes de caminhar ao nosso próximo destino, a praia paradisíaca de Varadero, passamos por Santa Clara, onde visitamos o mausoléu em que foi enterrado Che Guevara. Che foi assassinado na Bolívia em 1967, mas, 30 anos depois, seus restos foram transladados para Cuba e ele foi enterrado com honras de Estado, graças a seu heroísmo na Revolução. A enorme estátua, com os dizeres “Hasta la victoria siempre”, foi edificada com o olhar de Che para a América Latina, uma perfeita alusão à luta deste herói latino-americano, que dedicou sua vida ao internacionalismo e a liberdade de seu povo.

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A praia de Varadero é a mais famosa das praias de Cuba, cartão postal do turismo da ilha. Situada a cerca de 200 km da costa da Flórida (EUA), Varadero foi nos anos 40 e 50 um dos principais refúgios de criminosos americanos. Também recebia o escritor Ernest Hemingway.

Ao final de nossa viagem, no retorno à Havana, tivemos a grata satisfação de ter reunião com Ramon Cardona, presidente da Central de Trabalhadores de Cuba e diretor da Federação Sindical Mundial. Cardona nos deu seu relato sobre a luta dos trabalhadores da América Latina, da resistência do povo cubano frente ao cerco imperialista dos Estados Unidos, da importância do Brasil no cenário mundial em defesa da soberania e da solidariedade internacional que o governo Lula vem desenvolvendo. Saudou a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e a amizade entre os povos. A despedida de Cuba se deu através de um jantar onde fomos presenteados com um bolo sobre o qual estava desenhado “Brasil”.

Voltar a Cuba deve ser o desejo de todos que lá já foram. Rever o mar límpido, a bela cidade de Havana, rever os amigos que deixamos e continuar a acalentar o sonho por um mundo de liberdade e de desenvolvimento e apoiar este povo e este país que luta e resiste contra o covarde embargo econômico estadunidense.

Voltei, revigorada e com mais confiança no futuro, acreditando ainda mais que no Brasil também existe um grande povo, sonhador e lutador, única força capaz de levar o país a verdadeiros tempos novos plenos de igualdade e liberdade.

Pero que si, pero que no, yo lo creo que Cuba merece um sí!

* A viagem à Cuba foi coordenada pela Associação Cultural José Marti e pelo Centro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz – CEBRAPAZ. Participou ainda da viagem integrantes da União Brasileira de Mulheres – UBM – Seção Paraná, Centro de Estudos, Defesa e Educação Ambiental, Federação Interestadual de Sindicato dos Engenheiros, Conselho Regional de Serviço Social do Paraná, militantes dos Partidos Comunista Brasileiro, Partido Comunista do Brasil e Partido dos Trabalhadores, além de militantes independentes das causas ambientais e populares.