Uma Breve Experiência na Bela Cidade de Quito
Por: Elza Maria Campos – Vice-presidente do CRESS PR – 11ª Região
A bela e histórica cidade de Quito – Equador recebeu de 29 a 31 de maio representante de 18 países da América Latina e do Caribe, na V Conferência Regional da Federação Democrática Internacional de Mulheres – FDIM2. Quito, capital do Equador fica ao noroeste da América do Sul, que a partir de 2008 passou a ser a capital da Unasul (União de Nações Sul Americanas). Situa-se ao norte do Equador na bacia do rio Guayllabamba nas inclinações orientais do Pichincha (4794 metros), um vulcão ativo na Cordilheira dos Andes. Um lugar onde os Incas já haviam erguido um monumento marcando o local como “la mitad del mundo” (o meio do mundo), confirmado depois pelos espanhóis que dominaram o país a partir de 1534.
Ao bordo do avião já se vislumbrava a beleza da serra equatoriana e dos diversos vulcões cobertos pela neve e pelos maiores mangues do mundo na região costeira. Segundo nossas irmãs equatorianas, há pelo país diversas aldeias indígenas da Amazônia Equatoriana e um imenso resplendor das Ilhas Galápagos, rica em biodiversidade, onde animais inexistentes em qualquer outro lugar do mundo vivem com total liberdade. Sem dúvida o Equador combina nuances culturais e etnias diversas, algumas milenares.
Ao chegarmos ao aeroporto de Quito com as cinco representantes da União Brasileira de Mulheres, fomos recebidas pelas alegres companheiras da Frente Unida de Mulheres do Equador, que como o povo desta terra demonstra confiança no futuro daquele país, a partir da direção de Rafael Correa.
A caminho do Hotel, ouvindo um belo e agradável espanhol por nossas companheiras equatorianas pudemos sentir o clima agradável e ameno e as belas montanhas que rodeiam toda a cidade, dando-lhe um contraste inigualável e observar as coloridas vestimentas da população deste país.
Fomos recebidas por outras companheiras no Hotel Tambo Real, por onde fomos presenteadas pela bela paisagem que rodeava o Hotel. Muitas destas são trabalhadoras sociais que participaram da organização e coordenação do Evento.
Já no primeiro dia, participamos de uma homenagem à Vilma Espin liderança cubana, respeitada por seu povo pela dedicação à construção e fortalecimento do socialismo da bela ilha de Cuba e pelas conquistas da revolução de seu país e pela libertação das mulheres. Fomos brindadas pela fala expressiva de Yolanda Ferrer atual presidente da Federação de Mulheres cubanas que contém em seus quadros quatro milhões de filiadas. Yolanda registrou com muita emoção a história de Vilma Espin que desde muito jovem tomou consciência de seu papel na unidade de seu povo.
No dia 29 de maio, abertura da V Conferência Regional da América latina e Caribe, dirigida pela Federação Democrática Internacional das Mulheres já com a presença de 120 mulheres representando 17 países4, o discurso de abertura coube à Marinez Francesco vice-presidente da FDIM que ao saldar a plenária destacou a evidência de novos ventos em nossa América e que aspectos da profunda crise econômica, política, social e cultural do capitalismo, evidenciando que o neoliberalismo não poderá mais seguir enganando os povos. Destaca que a integração latino-americana é imprescindível porque um único povo não pode resolver seus problemas, há necessidade da unidade para criar a pátria latina americana e neste sentido cita Simon Bolívar e San Martin, heróis desta América. É nesta América, segundo Marinez milhares de crianças morrem e que a prostituição e exploração de meninas e adolescentes é muito presente, para tanto, para que todos sejam felizes, é necessário que as mulheres joguem um papel protagonico e neste sentido invoca a FDIM a incluir com mais força a temática de gênero, para a construção de uma pátria grande.
A vice-presidente destaca que outros ventos correm em nossa América, com Cuba, Venezuela, Equador, Bolívia, Nicarágua, Paraguai, Brasil, Uruguai e Argentina, com seus diferentes matizes, na construção de nações independentes e soberanas. Para ela, um só país não poderá resolver seus problemas, para tanto os esforços na unidade é imprescindível. As diferentes intervenções das participantes mostraram a rica pluralidade de culturas e a intensa dedicação á construção desta nação latino americana e caribenha.
A delegada do Brasil na Conferência Liege Rocha, destacou que a V Conferência ocorre em outra conjuntura da Conferência anterior. Nesta a crise do capitalismo de natureza financeira, social, ambiental, ou seja, uma crise estrutural contrasta com a perspectiva das forças progressistas neste continente. Destaca Liege que a FDIM, avançou em sua integração seja através da participação na Cúpula dos Povos, no MERCOSUL, e outros espaços. Levanta o questionamento acerca das perspectivas e desafios da FDIM como a realização de campanhas que unam as mulheres acerca da integração e da unidade e o enfrentamento da violência e da saúde das mulheres. Relata também os avanços das mulheres brasileiras na conquista de um Ministério especial e de um Plano Nacional de Políticas para as Mulheres. A Lei Maria da Penha, conquista do movimento feminista e de mulheres foi possível no atual governo de Lula. A representante brasileira levanta uma problemática de toda a América, relacionada à mortes e a criminalização de mulheres e que no Brasil 10 mil mulheres estão sendo condenadas pela prática do aborto e que uma centena de organizações se uniu para a defesa das mulheres e para a descriminalização do aborto. Destaca ainda o papel libertador da inserção das mulheres no mundo do trabalho, mas limitadas pelas desigualdades de tratamento. Ressalta o papel da União Brasileira de Mulheres no desenvolvimento da solidariedade internacional aos povos e na luta contra o bloqueio a Cuba.
Destacamos ainda a intervenção especial da Presidente da FDIM Márcia Campos que fez uma importante descrição da situação das mulheres na América Latina, dando destaques á situação no campo do trabalho, da cultura, da participação política da mulher. A presidente da Entidade evidencia o papel fundamental da Venezuela e de Cuba na construção do socialismo e de diversos países que aprofundam a democracia entre estes o Brasil. Anunciou na ocasião a nova sede da FDIM em São Paulo, presenteada pelo governo brasileiro e na ocasião elogiou a postura do Presidente Lula que segundo Márcia tem se mostrado como um grande amigo das mulheres.
As diversas falas das delegadas tiveram como marca central o papel da integração dos povos e das mulheres e a libertação da América e unidade dos povos, e que a participação política da mulher deve ser considerada como direito e a prioridade de gênero não como decreto, mas como construção no dia a dia. Para as panamenhas os espaços de poder devem garantir a participação de 50% de ambos os sexos.
No segundo dia do Evento as participantes foram organizadas em subgrupos que debateram os seguintes temas: 1 – Que economia necessita as mulheres da América Latina e do Caribe; 2 – O papel do Estado na visão das Mulheres; 3 – A integração e a solidariedade internacional; 4 – Como participar da construção do socialismo feminista no século XXI, 5 – Resistência e luta das mulheres em diferentes situações que impedem a paz e 6 – Mulheres e meios de comunicação.
Tive oportunidade de ouvir uma equatoriana no grupo de trabalho que participei5 intitulado “A Integração e a solidariedade Internacional”, que explanou acerca do resgate da Constituição da República do Equador do respeito às raízes milenares tendo como centro a soberania de seu povo, reconhecendo estas raízes forjadas por homens e mulheres de distintos povos e celebrando a natureza da Pacha Mama6, um Tiempo y lugar para la realización del buen vivir, de que são parte e de é que é vital para sua existência. Além desta bela fala, ouvimos Elena Linares da Organização de Mulheres Clara Zetkin da Venezuela que apresentou um contundente documentário intitulado Integração Alternativa e Novo Modelo Econômico, as perspectivas das Mulheres. Neste documento, Elena denuncia a operação geoestratégica dos Estados Unidos de anexar a América Latina através dos Planos: Colômbia, do povo do Panamá, da Iniciativa Regional Andina e da ALCA (Alternativa de Livre Comércio para as Américas7), que foi derrotada na região através da luta dos movimentos sociais. Destaca que todo o plano econômico imperialista está precedido da utilização de forças militares para o controle ideológico, político e militar dos povos e das regiões. Neste sentido coloca o papel da ALBA8 (Alternativa Bolivariana para as Américas). Evidencia que é neste local que se encontra a maior reserva natural de água subterrânea de todo o planeta e também e a maior hidroelétrica da America do Sul e a maior do mundo em geração de energia.9 Não poderia deixar de lembrar-se da tríplice fronteira formada pelas cidades de Puerto Iguazu, na Argentina, Ciudad Del Este no Paraguai e Foz do Iguaçu no Brasil, onde se encontra um dos patrimônios naturais da humanidade e santuário ecológico e estrategicamente colocado no encontro das águas das três nações da Amazônia, o Rio Onorico e o Rio da Plata. É ai que temos as belas Cataratas do Iguaçu.
Elena reforça ainda que a integração passa pelo reconhecimento das diversas particularidades históricas e econômicas dos diferentes povos da America Latina e do Caribe e pela consciência da exploração e do saque produzido pelo capitalismo dos recursos naturais como minas, petróleo, água e a escravidão de homens e mulheres. O compartilhar de experiências pelos distintos países nos leva ao reconhecimento de nossas identidades culturais e de nossas ações na unificação dirigida a uma integração sustentada, fundamentada nos princípios de solidariedade e complementaridade.
A representante da União das Mulheres do Paraguai, Ligia Prieto que destacou com veemência a necessidade do fortalecimento do MERCOSUL, destacando que as áreas de fronteira, onde é grande a circulação de pessoas, costumam ser cenário de vulnerabilidade para mulheres, crianças e adolescentes. É nesta situação que se vislumbra situações de violação de direitos. Ligia reforça o papel militante das mulheres e homens na defesa da região e no seu fortalecimento. As propostas sugeridas pela liderança paraguaia foram integradas ao relatório geral da Conferência e aprovadas pela plenária e que se consubstancia em: 1) Exigir dos governos da América Latina e do Caribe a atuação em unidade para garantir a efetiva integração de nossos povos e dos princípios de complementaridade, solidariedade e unidade na diversidade. Esta integração deve ser integral: Social, cultural, política, econômica. (2) Iniciar uma campanha para criar consciência de cidadania sobre a necessidade de integração de nossos povos, a fim de garantir os direitos humanos e soberanos do meio ambiente e das riquezas naturais. 3) Estabelecer redes de solidariedade entre as organizações da FDIM, que mantenham uma vigilância permanente das “Guardianas de la Vida”.
Além deste debate, o grupo teve a ilustre presença de Magaly Llort Ruiz, mãe de um dos cinco heróis seqüestrados e presos pelos Estados Unidos. Tivemos a oportunidade de abraçar esta mulher que nos dá exemplo de coragem e presenteá-la com uma edição da Revista Presença da Mulher10. O grupo aprovou a realização de uma ampla campanha para exigir a liberdade dos cinco heróis cubanos privados injustamente de seus direitos humanos desde 1998, além de aprovar a solidariedade às mulheres indígenas do Peru, vítimas de políticas genocidas, das colombianas vítimas da guerra, e dos povos da República Dominicana, do Haiti, do povo árabe de Saharaui e dos Palestinos.
Posso sem sombra de dúvida afirmar que a participação neste inesquecível encontro e o contato com este povo irmão com o compartilhamento das experiências com mulheres de distintos países desta América foi e será inesquecível. Percebemos que temos as mesmas necessidades de resgatar e respeitar a nossa memória e de nossas identidades culturais e de recuperá-la, respeitando nossos povos originários de nossa América Latina e do Caribe para reconstruir relações políticas baseadas na reciprocidade e na solidariedade, além de reconhecer a memória de muitas mulheres que entregaram suas vidas às lutas pela independência e pela liberdade de seus povos e pelo avanço e emancipação das mulheres. Ouvimos a saudação final do Evento regado com muita esperança e alegria próprias do povo latino-americano e caribenho que ao som de despedida expressam a possibilidade da construção de uma única nação soberana, independente, socialista, seguindo juntas cantando uma canção chamada liberdade.